sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

[0514] Vitor Ramalho, secretário-geral da UCCLA, novo Cidadão Honorário da Cidade Velha e homenagem ao Padre António Vieira

O secretário-geral da União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), Vítor Ramalho, recebeu hoje o título de Cidadão Honorário da Cidade Velha no Convento de São Francisco da Ribeira Grande de Santiago. A atribuição do honroso galardão foi decidida pelo executivo da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago (membro efectivo da UCCLA).

Vítor Ramalho descerrou uma placa comemorativa da passagem do Padre António Vieira pela Ribeira Grande de Santiago - Cidade Velha. Esta placa, oferta da UCCLA a pedido da autarquia, será oportunamente colocada na fachada da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Grandes ou do Rosário dos Pretos. Eis algumas fotos de ambos os acontecimentos:

Vitor Ramalho recebendo o diploma de Cidadão Honorário da Cidade Velha
Durante o almoço, no Hotel Limeira

Com o Presidente da CMRG, Dr. Manuel Monteiro de Pina

O Presidente da CMRG e o novo Cidadão Honorário da Ribeira Grande de Santiago descerrando a placa de homenagem ao grande pregador português Padre António Vieira


Nuno Rebocho, assessor do Presidente da CMRG, explica o significado de epitáfio em pedra tumular


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

[0513] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Homenagem a Zé Espanhol

Amanhã, sexta-feira, dia 31 de Janeiro, a partir das 16h00, no Largo do Pelourinho de Cidade Velha – e no âmbito dos festejos de Nhu Santu Nomi di Jesus e do Dia do Município –, é prestada homenagem a Zé Espanhol (de seu verdadeiro nome José Rocha dos Santos) que, sendo fidju di tera, muito tem dignificado Ribeira Grande de Santiago e de manhã recebe no Convento de S. Francisco o título de Cidadão de Mérito do concelho. 

Natural deste Município, participam no espectáculo em sua honra Beto Dias, Edu, Duco Cidade e Dju, além do próprio Zé Espanhol.

[0512] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Dia do Município de Ribeira Grande de Santiago

Foto site CMRG
Com a presença de S. Exª o senhor Primeiro-Ministro, Dr. José Maria Neves, e do Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, Dr. Manuel Monteiro de Pina, decorre amanhã, sexta-feira, dia 31 de Janeiro, no Convento de S. Francisco, Cidade Velha, a partir das 10h00, a sessão solene do Dia do Município, sob presidência do Presidente da Assembleia Municipal de Ribeira Grande de Santiago, Dr. Domingos Veiga Mendes.

Durante este importante ato, serão distinguidos com o diploma de Cidadão Honorário de Cidade Velha o Secretário-Geral da UCCLA (União das Cidades Capitais da Lusofonia), Dr. Victor Ramalho, e com os diplomas de Cidadãos de Mérito do Município os senhores José Rocha Santos (José Espanhol), Fausto Nunes Barbosa e Luísa Ferreira Gonçalves.

Para assinalar a data, será publicamente divulgado o novo jornal municipal (de edição bimestral) “Construir Ribeira Grande” e apresentado por Dr. Flávio Semedo o site da CMRGS, hospedado em www.cmrgs.com, que representa um passo dado na intercomunicação na Câmara Municipal, que passa a dispor  - a partir de agora - de um e.mail (cmrgs@gmail.com), de um facebook (Câmara Municipal RGS), de um blogue (CIDADE VELHA 1462, http//cidadevelha1462.blogspot.pt), iniciativa de um amigo de Cidade Velha, Dr. Joaquim Saial, e de You Tube. Ou seja, a Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago passa a contar com um sistema de comunicação moderno apto a servir em qualquer circunstância.

Da parte de tarde, a partir das 15h30, depois do almoço oficial no Hotel Limeira de Cidade Velha para celebração da data, é descerrada uma lápide evocativa da presença nesta cidade do Padre António Vieira (importante missionário jesuíta português do séc. XVIII), oferta da UCCLA, junto da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. 

[0511] O secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Vítor Ramalho, vai receber o título de Cidadão Honorário da Cidade Velha, em Cabo Verde, na próxima sexta-feira.

Ver AQUI

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

[0510] "Prémio Literário Pedro Silva" (Ribeira Grande de Santiago) - Regulamento

Sublinhando a edificação da futura Biblioteca Municipal Dr. Pedro Silva (cuja construção se começa em S. Martinho Grande, onde provisoriamente vai ser instalada), foi criado o "Prémio Literário Pedro Silva", com vista a divulgar a literatura cabo-verdiana e incentivar o gosto pela escrita e pela leitura. 
Neste sentido, foi aprovado o seu Regulamento, que se divulga:

Regulamento do "Prémio Literário Pedro Silva"

Introdução

Subjacentes à criação deste Prémio Literário estão três motivações fundamentais: em primeiro lugar, a divulgação da literatura cabo-verdiana, a referência ao escritor e patrono da Biblioteca Municipal, Pedro Silva, e a vontade de incentivar o gosto pela escrita e pela leitura. 

Artigo 1.º
O Município de Ribeira Grande de Santiago, com sede em Cidade Velha, institui o Prémio Literário Pedro Silva, destinado a nascidos e residentes em Cabo Verde, e que será realizado por uma (1) única vez.

Artigo 2.º
O Prémio Literário Pedro Silva tem como âmbito o premiar um trabalho inédito na área literária definida como Ficção/Conto. O prémio será a publicação em formato impresso (livro) nas publicações euidito . Os segundo e terceiro classificados receberão uma Menção Honrosa. Tanto o lançamento da obra vencedora, quanto a entrega das menções honrosas, acontecerão no mesmo dia, a marcar em 2014, depois da inauguração da Biblioteca.

Artigo 3.º
Podem concorrer todos os naturais ou residentes em Cabo Verde.

Artigo 4.º
Cada concorrente poderá apresentar um máximo de uma obra original, tendo de obedecer aos seguintes parâmetros:
* Redigido em língua portuguesa; 
* Máximo de 125 páginas de formato A4, com espaço duplo entrelinhas e tamanho 12 no corpo da letra, sendo a opção o Times New Roman;
* Os originais deverão ser enviados, sob pseudónimo, por correio registado para: (INSERIR MORADA DA Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago); 
* Os originais devem seguir em uma cópia impressa e uma cópia em CD/DVD ou outro sistema informático que permita a leitura no computador;
* Com os originais deverá seguir um envelope fechado, contendo os dados referentes ao autor;
* Os trabalhos devem ser entregues no período que medeia entre o dia 1 de Fevereiro e 31 de Março.

Artigo 5.º
O trabalho que, pela sua qualidade literária, mais se distinga entre os autores naturais ou residentes de Cabo Verde será publicado como contrapartida pela distinção.

Artigo 6.º
Caberão ao Município da Ribeira Grande de Santiago todos os direitos sobre a primeira edição do trabalho premiado, comprometendo-se este a oferecer ao respectivo autor 10 exemplares, considerando-se os direitos de autor regularizados desta forma. 

Artigo 7.º
Poderão, ainda, ser atribuídas menções honrosas às duas obras classificadas em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Estas Menções Honrosas terão a forma de um Diploma.

Artigo 8.º
A entrega dos prémios será feita em sessão pública a determinar pela Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago.

Artigo 9.º
O júri será composto por: 
* Presidente Honorário (dr. Pedro Silva);
* Um membro indicado pela Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, pelo seu vereador da Cultura;
* Uma personalidade reconhecida pelo seu mérito intelectual (prof. João Lopes Filho);
* Um Cidadão Honorário da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago (dr. Joaquim Saial)

Artigo 10.º
O júri poderá não atribuir qualquer prémio, caso considere que os trabalhos apresentados não reúnem condições de qualidade que o justifiquem. 

Artigo 11.º
Os casos omissos ou as divergências na interpretação do presente regulamento serão solucionados pelo júri. 

Artigo 12.º
Das decisões do júri não haverá recurso. 

Deste modo, ficam abertas (até 31 de Março) as candidaturas a este Prémio.
Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago, 29 Janeiro 2014


[0509] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Inauguração da Placa Desportiva de João Varela

Com a presença do Director Geral de Desportos, dr. Inácio de Carvalho, o Presidente da Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago, dr. Manuel Monteiro de Pina, inaugura amanhã, dia 30 de Janeiro, às 16h15, a placa desportiva de João Varela, dando continuidade ao programa em curso no actual mandato camarário “uma localidade, uma placa desportiva”, ao abrigo do qual foi já construído o de Calabaceira de Cidade Velha e iniciados os trabalhos para a construção do de Santana. Neste momento, existem placas em Porto Mosquito, Chã de Igreja (S. João Baptista), Salineiro, João Varela e S. Martinho Grande, estando iniciados as obras de reabilitação do de Chã Gonçalves, permitindo assim a generalização da actividade desportiva em Ribeira Grande de Santiago dentro de uma política de “mente sã em corpo são”.

Para assinalar o ato inaugural ocorrido em João Varela, jogam-se ali, às 15h00, as finais do Torneio Intermunicipal de Futsal entre os seleccionados de Bota Rama e S. Martinho Grande (que dirimam entre si o 3.º lugar) e os de Cidade Velha e Porto Mosquito em disputa do 1.º lugar.

[0508] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Inauguração do Anexo da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago

O Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, dr. Manuel Monteiro de Pina, inaugura amanhã, quinta-feira, dia 30 de Janeiro, às 15h00, o anexo dos Paços do Concelho, que largamente o amplia e permite a concentração de serviços municipais que antes se encontravam dispersos em Cidade Velha, o que minimiza despesas no aluguer de casas e em muito melhora o atendimento público. Trata-se, portanto, de um melhoramento de grande impacte na vida desta autarquia com grandes repercussões na vida da sua população.

O anexo fornece numerosas salas de trabalho e um auditório que reforça o número de espaços disponíveis em Cidade Velha para a realização de eventos.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

[0507] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Importantes obras na Ribeira Grande de Santiago

O Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, dr. Manuel Monteiro de Pina, lança a primeira pedra da placa desportiva de Santana, que é parte do programa “uma localidade, uma placa desportiva” em execução neste Município, na próxima quarta-feira, dia 29 de Janeiro, seguindo-se a inauguração das redes de água domiciliária também em Santana e Tronco.

Depois, às 16h00 desse dia, em conjunto com a Ministra do Desenvolvimento Rural, Drª Eva Ortet, procede à inauguração de igual rede em Lém Dias e Sanharé, concluindo-se deste modo o programa de distribuição de água ao domicílio no Município da Ribeira Grande de Santiago (programa “uma habitação, uma torneira”), que assim fica neste domínio na vanguarda de Cabo Verde.

Segue-se (às 16h30) o lançamento da primeira pedra da Biblioteca Municipal Dr. Pedro Silva em S. Martinho Grande. Às 16h40 procede ao lançamento da primeira pedra dos trabalhos de requalificação das ruas de S. Martinho Grande.

[0506] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Meias-finais do Torneio Intermunicipal de Futsal

Os seleccionados de Cidade Velha, Bota Rama, Porto Mosquito e S. Martinho Grande foram apurados na primeira fase Torneio Intermunicipal de Futsal, actualmente em curso em honra de Nhu Santu Nomi di Jesus (jogando todas as equipas participantes contra todas), pelo que passaram à fase das suas meias-finais, marcadas para amanhã, terça-feira, dia 28, na placa desportiva de Salineiro, a partir das 14h30. Deste modo, disputam-se então os seguintes jogos:

Cidade Velha-Bota Rama
Porto Mosquito-S. Martinho Grande.

O Torneio Intermunicipal de Futsal culmina no dia 30 com a inauguração da placa desportiva de João Varela, onde se disputa a final, e que representa mais um importante passo no programa “uma localidade, uma placa desportiva”, a ser executado para permitir condições de generalização da prática desportiva em Ribeira Grande de Santiago. Já têm placas desportivas as localidades de Porto Mosquito, Chã de Igreja (São João Baptista), Salineiro, Calabaceira e S. Martinho Grande, começando os trabalhos para a reabilitação da de Chã Gonçalves e, no dia 29, com a presença do Presidente da Câmara de Ribeira Grande de Santiago – dr. Manuel Monteiro de Pina – é lançada a primeira pedra da de Santana.

sábado, 25 de janeiro de 2014

[0505] Adiamento da inauguração da rede de distribuição de água domiciliária em Tronco e Santana

Devido à necessidade de corrigir algumas anomalias e por causa do Festival de Nhu Santu Nomi di Jesus que entretanto decorre, o acto de inauguração da rede de distribuição de água domiciliária em Tronco e Santana (tal como o lançamento da primeira pedra da placa desportiva de Santana) foi transferida para dia 29. Desta forma, procura-se que tudo se faça nas melhores condições possíveis, nunca defraudando as legítimas expectativas dos beneficiados por estas obras.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

[0504] O corsário Francis Drake na Ribeira Grande de Santiago - Mais um valioso texto de Nuno Rebocho

Nuno Rebocho
Como se sabe, as investidas de corsários a Santiago, principalmente contra Ribeira Grande, centraram-se sobretudo na segunda metade do séc. XVI: “A partir da década de 1560, a concorrência cada vez mais acentuada de mercadores estrangeiros que inundam a Guiné com um diversificado leque de produtos, deprecia gradualmente o algodão produzido em Cabo Verde e usado pelos moradores no resgate na costa africana” (in História Geral de Cabo Verde). Os corsários foram uma das armas usadas nesta “guerra comercial” visando fragilizar o domínio de Portugal e Espanha nos territórios atlânticos, dado que as potências do norte da Europa não reconheciam o chamado mare clausum resultante do Tratado de Tordesilhas e punham em causa o poder da Santa Sé. Em consequência, “o arquipélago entra numa nova fase em que os sistemas de desgaste do modelo inicial se tornam evidentes, culminando na crise que se abate sobre a sociedade insalubre já nos fins da década de seiscentos” (“História Concisa de Cabo Verde”, coordenada por Maria Emília Madeira Santos, IIPC).


Francis Drake, por Jodocus Hondius
Há uma certa tendência da literatura historiográfica, sobretudo cabo-verdiana, para desvalorizar e menosprezar a actividade dos corsários, considerando-a uma acção marginal. Tal está longe de corresponder à verdade dos factos: tendo em conta que ela afectava bastante a circulação de riqueza atlântica, cuja defesa era então muito frágil, envolvendo proeminentes figuras da história europeia, conclui-se facilmente que esta acção estava longe de ser marginal e muito contribuiu para a decadência do poder de Ribeira Grande de Santiago, nessa altura o rico entreposto do tráfico de escravos. Os golpes desferidos pelos corsários, sendo perniciosos para Lisboa e Madrid, eram um poderoso instrumento das cortes que se lhes opunham.

No arquipélago de Cabo Verde vingava então uma urbe que se tornara num importante entreposto escravocrata: “o local escolhido para o povoamento da vila era um vale profundo e verdejante que era rasgado por duas ribeiras que desaguavam no mar, formando uma enseada com boas condições para a instalação de um porto que facilitasse as ligações com o exterior. 

Ribeira Grande de Santiago, dita Cidade Velha
“No período compreendido entre a instalação do núcleo de Ribeira Grande até aos finais do séc. XV, o aglomerado cresceu e desenvolveu-se em torno do seu porto e actividades comerciais dos seus moradores para, em 1497, já contar com uma Câmara a funcionar (ainda que a localidade só viesse a contar com o título oficial de vila em 1513)” (Fernando Pires, Da Cidade da Ribeira Grande à Cidade Velha de Cabo Verde).

Em consequência da carta régia de 12 de Junho de 1466, a actividade de comércio e exploração a partir de Ribeira Grande (e tal incidia sobre o tráfico de escravos) estendia-se desde Arguim à Serra Leoa, confinando-se esta actividade à zona dos rios da Guiné por outra carta régia de 1472.

Aparecem os corsários

Considerava-se que havia corsaria quando os golpes eram desferidos como actos reconhecidos e mandados executar sob ordens de um qualquer governo, recebendo então eles para este efeito carta de corso, e pirataria quando aparentemente essa disposição não existia. Embora piratas e corsários fossem a mesma coisa e igual o seu modo da actuar, aceite-se esta eufemística distinção, sublinhando que portugueses e espanhóis procediam igualmente à mesma actividade de corso ou pirataria contra os seus opositores (e muitas vezes nos seus próprios territórios).

Galeão de Francis Drake
De uma maneira geral, a história do corso (ou da pirataria), no que a Cabo Verde respeita, desdobra-se por quatro fases: na primeira fase, assiste-se a uma predominância francesa nestes ataques, que se registam maioritariamente a partir de 1530 no mar, estando as ilhas praticamente deles desprotegidas; numa segunda fase, em particular depois da assinatura do Tratado de Léon entre Portugal e França, em 1538, são os ingleses que tomam a dianteira, passando esta actividade a efectuar-se em terra, com ataques às cidades; numa terceira fase, a partir de fins de 1590, é sobretudo holandesa a acção: na quarta e última fase, verifica-se com o ataque de Jacques Cassard a Ribeira Grande de Santiago, praticamente o encerramento deste ciclo.

Para custear as despesas com a defesa de Ribeira Grande a coroa instituiu a Bula da Santa Cruzada de Cabo Verde, embora os ganhos auferidos por esta medida minguassem sobremaneira nos fins do séc. XVI (enquanto as despesas acresciam) e a Bula acabasse por entrar em desuso.

Durante o período inglês sobressaiu Francis Drake, nascido no Devonshire em 1543. Ele foi – desde 1558 (portanto, com apenas quinze anos de idade) - um dos “corsários da rainha” de Inglaterra, Isabel I (de quem alguns historiadores afirmam ser filho bastardo, com isso explicando as preferências que dela teve), juntamente com John Winter e Thomas Doughty. Os três partiram de Plymouth, com Drake a bordo do “Pelican”, em 15 de Novembro de 1577 com destino suposto ao Nilo, ainda que Drake desde logo defendesse que se dirigissem para o Oceano Pacífico, via estreito de Magalhães. 

A circum-navegação do mundo por Francis Drake
Nessa viagem, Drake surgiu em águas cabo-verdianos (primeira incursão) vindo por apelo de seu primo, John Hawkins - por volta de 1578 -, aprisionando então seis barcos que se encontravam ancorados em Ribeira Grande. Hawkins atacara pouco antes Ribeira Grande e depois mancomunou-se, em S. Filipe do Fogo, com Manuel Serradas e os partidários de D. António Prior do Crato. Tendo enganado os residentes de Ribeira Grande, Hawkins foi por sua vez vítima de uma cilada que lhe matou um punhado de homens.

Esta circunstância pôs os corsários ingleses em alerta contra as capacidades de combate da então capital de Cabo Verde - embora ainda não estivesse construída a sua fortaleza e fossem frágeis os três baluartes por essa altura existentes (S. Brás, construído em 1582, Vigia e Ribeira) – e preparou o posterior ataque de Francis Drake. Estavam os locais preparados e justamente desconfiados das intenções inglesas.  
De Cabo Verde, Drake prosseguiu rota para o Pacífico (em 1578/79) ao comando de cinco navios, passando pelo estreito de Drake e seguindo pelas Índias Orientais, passando pelo Cabo da Boa Esperança, sendo o segundo europeu a fazer a circum-navegação mundial (1580, depois de Sebastián del Cano). Após esta viagem, Drake foi nomeado cavaleiro de Inglaterra.

Considerado herói pelos britânicos, recebeu deles as mais altas honrarias, enquanto Filipe II de Espanha, que o tratava por “el Drague”, pôs a sua cabeça a prémio (20 000 ducados).

Imagem do que terá sido a Invencível Armada
Em 1585, Drake voltou a atacar Ribeira Grande (segunda incursão), tendo desembarcado em Praia e vindo por terra até à capital, evitando alardes por parte dos esculcas - Drake iniciou os combates por terra, ainda que Serradas já antes tivesse desferido o seu golpe a partir da Praia. Este processo serviu para industriar o corsário inglês com vistas a uma terceira investida sobre Ribeira Grande de Santiago, onze anos mais tarde.
Em 1587, voltou a atacar a coroa espanhola (em Cádis, la Coruña e Lisboa) e no ano seguinte, em 1588, liderou o conjunto de embarcações inglesas que derrotaram a famosa “Invencível Armada” espanhola (chamada de “Grande y Felicíssima Armada”) na batalha naval de Gravelines, apenas estando subordinado a Charles Howard e à rainha, afundando então nada menos que 23 navios.

Em 1596, Drake fez terceira incursão em Santiago, desembarcando em S. Martinho Grande (Cadjetona) – onde se pensou construir um baluarte, o que nunca se verificou - e rumando por terra para Ribeira Grande à frente de uma coluna de 600 homens, galgou a distância, assim ludibriando as esculcas e os rebates, o que lhe permitiu desferir o golpe sem que houvesse rebate defensivo. Os corsários deixavam de concentrar atenções nos navios ancorados na baía de Ribeira Grande, atacando directamente os mercadores sediados na cidade e apropriando-se dos escravos nela existentes.

Mapa do género dos  usados por Drake
Sabe-se que Drake arrasou o almoxarifado de Ribeira Grande, então localizado perto da anual escola primária de Cidade Velha, segundo o demonstram escavações feitas. A cidade foi alvo de destruições várias e as suas riquezas pilhadas. Foi um rude golpe que fez tremer e temer a sociedade de mercadores e navegadores que Ribeira Grande era então.

A defesa de Ribeira Grande reforça-se

Quando Drake procedeu à sua terceira investida, já existia a Fortaleza Real de S. Filipe, começada a construir em 1588 e concluída em 1589. A defesa recebera importantes reforços, com a instalação de companhias – onde os escravos dominavam, mas onde havia soldados e oficiais profissionais – e colocação de alguma artilharia, culminando com sistema de baluartes, a partir dos quais se fazia fogo cruzado (sete baluartes, a saber: o de S. Brás, o de Santa Marta e o de S. Lourenço, todos na margem direita da ribeira de Maria Parda; o do Presídio, junto da Muralha do Mar; os de Santo António, de S. João dos Cavaleiros e o de S. Veríssimo, na margem esquerda da Ribeira Grande, quase todos recuperáveis).

Estátua de Francis Drake, Londres
Posteriormente à segunda investida de Drake, assistiu-se à profunda reforma filipina do sistema de defesa de Ribeira Grande de Santiago: é no reinado de Felipe II que ela atinge o auge, principalmente com a construção da Fortaleza Real, segundo o traço de João Nunes de acordo com estudos mandados fazer por Diego F. Valdez e reforçados com a edificação de um conjunto de baluartes completamente integrados na sua linha de defesa.

Simultaneamente, rectificou-se a estratégia defensiva – com os navios navegando em “conserva” (de modo que o seu agrupamento minorasse significativamente a acção dos corsários), havendo galeotas que entretanto percorriam os mares, servindo-se da sua grande mobilidade e agilidade para actos de vigilância, e melhoraram-se os processos de espionagem sobre a parte contrária. Considerou-se o armamento artilheiro e outro de que Cabo Verde tinha graves carências e reformou-se a organização das tropas de terra, que desde 1582 se fez pelo sistema de companhias de ordenanças (bandeiras, tendo entre 250 e 170 homens, formadas a partir de esquadras de 25 soldados).

A unificação das coroas ibéricas (em 1580) importou num reforço das condições de segurança e, nunca como então, Cabo Verde mereceu especiais atenções na sua capacidade de combate. O redobrar desta força, que se estendeu até meados do reinado de Filipe III, foi acompanhado também por um reavivar dos ataques corsários, que se agudizaram de intensidade e ainda de poder de fogo.

Um personagem fundamental na história de Ribeira Grande 

Drake a ser armado cavaleiro por Isabel I
Sir Francis Drake, arvorado no posto de vice-almirante britânico, faleceu a 28 de Janeiro de 1596 a bordo do “Defiance” e a combater os espanhóis em S. Juan de Puerto Rico, vítima de disenteria. O seu corpo foi lançado ao mar em Portobelo. Contava  55 anos. Ficou conhecido por sua luta obstinada contra Filipe II da Espanha e por ter sido então o primeiro dos grandes da marinha inglesa. A sua vida e acção são indissociáveis da história de Ribeira Grande de Santiago, da sua antiga riqueza e posterior decadência. A sua figura e personalidade serão, por alguns, criticáveis, mas devem ser entendidas de acordo com os padrões da época. Ele foi, sem dúvida, importante para a história de Ribeira Grande, que não pode ser escrita sem o ter em conta.

Francis Drake trabalhou para a Rainha Isabel I procurando acumular tesouros e riquezas para a coroa inglesa. Porém, caso essa aliança causasse problemas de qualquer espécie para a Rainha, a rainha poderia simplesmente quebrar o acordo e responsabilizá-lo por todos os saques e ataques (sem seu conhecimento), livrando a coroa de todo e qualquer problema presente e futuro. 

[0503] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Festival de Nhu Santu Nomi di Jesus

Com os patrocínios da Direcção Geral de Turismo (através do Fundo de Sustentabilidade de Turismo), da Cavibel, da Mantenhas Ld, da RTC e do Hotel Praia-Mar, a Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago – em parceria com a JM Produções – organiza nos dias 24 (hoje, sexta-feira) – a partir das 23H00 - e 25, sábado à mesma hora, na Achada Forte (Cidade Velha), o Festival de Nhu Santu Nomi di Jesus.

Em espaço novo e amplo, erguido para o efeito e para eventuais novos eventos musicais, as entradas neste festival estão condicionadas a pagamento, embora módico, tendo todas as condições de segurança e de higiene. Em espírito de renovação e com novo perfil, os horários (que se anexam) tendem a ser rigorosamente cumpridos.

Actuam neste festival os seguintes intérpretes: dia 24 - Edu, TL Dreams, Djay, Jorge Neto e Zé Espanhol; dia 25 – Beto Dias, Ferro Gaita, Djodji e Gil Semedo.

[0502] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Inaugurações da rede de abastecimento de água domiciliária em Santana e Tronco

O Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, dr. Manuel Monteiro de Pina, inaugura no próximo sábado, 25 de Janeiro, às 15h30, a rede de abastecimento de água domiciliária em Santana e às 16h30 procede a igual inauguração em Tronco. Com estas inaugurações a rede de abastecimento de água em Ribeira Grande de Santiago – no âmbito de um ambicioso programa “uma habitação, uma torneira” -, cujos trabalhos se iniciaram há cerca de seis anos, partindo de um patamar de apenas 7 % do território municipal beneficiado por esta serventia própria dos tempos hodiernos, entra em fase de conclusão, ficando o Município na vanguarda de Cabo Verde quando a este item.

[0501] Tenda electrónica em Cidade Velha

No próximo domingo, dia 26 de Janeiro, estará em funcionamento na Cidade Velha, junto da Rua Calhau, a partir das 16 horas, uma tenda electrónica a fim de com ela satisfazer os desejos de diversão de moradores e visitantes da Ribeira Grande de Santiago.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

[0500] NO POST 500, uma bela notícia: geminação de Cidade Velha com Cacheu (Guiné-Bissau)


A vermelho, a zona do Cacheu
Foi hoje feita, com recurso aos modernos meios informáticos, a assinatura do protocolo de geminação entre Cacheu (República da Guiné-Bissau) e Ribeira Grande de Santiago (Cidade Velha). Com este ato integrado nas Festas de Nhu Santu Nomi di Jesus – há muito desejado pelo antigo Presidente da República, comandante Pedro Pires, e de que foram intermediários a Fundação Mário Soares e a Associação de Desenvolvimento de Bissau – alarga-se o leque de geminações havidas por Cidade Velha: com Guimarães, Lagos, Golegã, Odivelas, Trancoso (Portugal), Ribeira Grande de S. Miguel (Açores), Gorée (Senegal), Lobata (S. Tomé e Príncipe), Praia e S. Filipe do Fogo (Cabo Verde). São portanto onze as geminações já efetuadas com o Berço da Nação cabo-verdiana, o que diz bem da projecção que a “cidade do mais antigo nome” vem granjeando.

Os Presidentes dos dois Municípios (Fernando dos Reis Piris e Manuel Monteiro de Pina) irão encontrar-se oportunamente em data a divulgar, confirmando então a geminação agora feita.
A castanho claro, o município de Cacheu


[0499] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Feira de produtos agrícolas

No âmbito das grandes e populares Festas de Nhu Santu Nomi di Jesus decorrerá no próximo dia 25, sábado, no Largo do Pelourinho (Cidade Velha), das 9h00 às 16h00, uma feira de produtos agrícolas reunindo uma vintena de expositores, todos do Município de Ribeira Grande de Santiago. Embora a pecuária local esteja em grande desenvolvimento, optou-se por não incluir nesta mostra animais, carne e produtos derivados de carne. Em contrapartida, haverá nela um expositor sobre questões ambientais e ecológicas e sobre floricultura.

Esta feira de produtos agrícolas, organizada pela Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, tem a excelente colaboração e parceria do Ministério de Desenvolvimento Rural.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

[0498] Um esclarecimento mais que necessário sobre uma autoria de Sérgio Frusoni - VER NOTÍCIAS SOBRE AS FESTAS DE NHU SANTU NOMI DI JESUS MAIS ABAIXO [ACTUALIZADO às 14h53, hora de Portugal]

O SEU A SEU DONO

Sérgio Frusoni
Não é por mal, a gente sabe. Mas que parece mal, não há dúvida alguma. Roubarem a propriedade intelectual a quem produz cultura é tão ou mais doloroso que o roubo de uma propriedade fixa ou móvel, salvaguardadas as devidas distâncias e os pesos de cada uma delas. Abastardarem escrito nosso, ainda pior, dado que quem lê uma poesia, romance ou texto de jornal, fica sem saber se a gralha ou a mistura de linhas se deve ao autor ou não. 

No caso vertente, nem sequer se trata de velhacaria, mas sim de asneira recorrente - que ambos os autores, já falecidos, dispensavam. B. Leza e Sérgio Frusoni são suficientemente grandes para não andarem misturados quando não é caso disso. Foram duas estrelas luminosas e ainda são, nos caminhos da música e da poesia cabo-verdiana, figuras das mais altas na grande constelação que o Mindelo produziu ao longo dos tempos. Aqui fica o esclarecimento do filho e nosso amigo, Fernando Frusoni.

Tenho ouvido vários  cantores interpretar a morna do meu pai, Sérgio Frusoni, “Tempe de Caniquinha “, mas não tive ainda o prazer de ouvir uma interpretação que tivesse utilizado na integra a versão original. O mais grave é que por vezes tenho ouvido utilizar palavras que não têm sentido e que não respeitam a rima seguida pelo meu pai. Ter lido no You Tube que esta morna foi composta por B. Leza e Sérgio Frusoni, deixou-me estupefacto. 

Devo esclarecer o seguinte: a morna foi escrita e musicada pelo meu pai e foi pela primeira vez interpretada pelo meu irmão  Franco Frusoni no Conjunto Cénico  Castilhano.

Uma parte da letra original encontra-se no livro de Valdemar Pereira “O Teatro é uma Paixão, a Vida  é uma Emoção “, página 178. Completei a letra que tenho de memória de tanto a ouvir cantar em casa.

Eis a letra original, para  quem a quiser conhecer:

TEMPE DE CANIQUINHA

Sanvecente um tempe era sabe
Sanvecente um tempe era ôte côsa
Cónde sês modjêr ta usába
Um lenço e um xales cor de rósa
Um blusa e um conta de coral

Cónde na sês bói nacional
Tá mornód tê manchê
Cónde sem confiança nem abuse
Tá servid quel cafê
Ma quel ratchinha de cúscús.
Cónde pa nôs Senhóra da Luz
Tinha um grande procisson
Cónde ta colóde Santa Cruz
Ta colóde pa San Jon
Lá na rebêra de Julion

Cónde ta cutchide na pilon
Tá cantá na porfia
Cónde ta tchuveba e na porte
Ta vivide que mas sôrte
E que mais aligria.

Povo ca ta andá moda agora
Na mei de miséria tcheu de fome
Ta embarcá ta bá  ‘mbóra
Sem um papel, sem um nome,
Moda um lingada de carvon.

Era colheita na tchôn
Era vapôr na bahia,
Oh Sanvecente daquês dia
Atê góte de Manê Jon
Tá ingordá na gemáda.

Lá pa quês rua de moráda
Era um data de strangêr
Era um vida folgáda
Ciçarône vida airáda
Ta nadába na dnhêr.

De nôte sentód na pracinha
M’ ta partí gônhe assim…
Pa mim pa bô, pa mim,
Pa mim pa bô, pa mim
Era tempe de caniquinha…

Génova, 11 de Janeiro de 2014
Fernando Frusoni


FESTAS DE NHU SANTU NOMI DI JESUS 2014


Feira de Artesanato

Com o objectivo de rentabilizar os recursos existentes, promover o auto-emprego, desafiar e diversificar a oferta (e com ela dinamizar a economia local), deste modo transformando as naturais fraquezas em oportunidades e valorizando o património, a Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago promove e organiza nos dias 23 (quinta-feira) e 24 de Janeiro (sexta-feira), das 10 às 18h00, no Largo do Pelourinho em Cidade Velha uma importante Feira de Artesanato. Esta mostra de artesãos, com os seus diversos produtos, é realizada em gostosa parceria com o Ministério da Cultura, a Direcção Geral de Turismo, a Curadoria de Cidade Velha e a empresa Mantenha, tendo o apoio de empreendedores locais.

Workshop de Economia da Cultura

Em muito positiva parceria com o Ministério da Cultura, a Direcção Geral do Turismo, a Curadoria de Cidade Velha e a empresa Mantenha, a Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago organiza no dia 23 (quinta-feira) e 24 de Janeiro (sexta-feira) no Largo do Pelourinho de Cidade Velha, às 15 horas, um workshop de Economia Local subordinado ao tema “Do Património ao Bolso”.

Pretende-se com esta iniciativa, que tem o apoio de empreendedores locais, rentabilizar os recursos existentes no Município, disponibilizar informações e promover o auto-emprego, com isso dinamizando a economia local e valorizando o património.

No workshop participam um representante do Banco da Cultura, José Lé de Matos, Jorge Matos e Luísa Janeirinho.

Conferência de imprensa


Visando a apresentação do Festival de Nhu Santu Nomi de Jesus, que se realiza em Achada Forte de Cidade Velha nos próximos dias 25 e 26, a Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago (que este ano colabora com um produtor na organização deste evento), realiza amanhã, quinta-feira, dia 23, às 11 horas, nas salas do Hotel Praia-Mar, na cidade da Praia, uma conferência de Imprensa na qual estarão presentes os artistas Gil Semedo, Edu, Djodje e Zé Espanhol, que atuam neste certame.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

[0497] Nhu Santu Nomi di Jesus 2014 - Jogos Intermunicipais de Futsal

Realiza-se amanhã, quarta-feira, dia 22, às 16 horas, na placa desportiva de Salineiro, a quarta jornada do Torneio Intermunicipal de Futsal com os jogos Cidade Velha-Santana e Calabaceira-João Varela. Como já foi anunciado a final da competição será no dia 30, data em que essa infraestrutura se inaugura.

Na anterior jornada Bota Rama venceu Calabaceira por 3-2 e Porto Mosquito empatou por 1-1 com Cidade Velha. Este torneio decorre em três fases – na primeira fase em regime de todos os seleccionados contra todos, seguindo-se as meias-finais que determinará quais as equipas que estarão na final.

Os jogos, que têm decorrido com normalidade e boa organização, têm tido boas assistências, indicando que as competições desportivas estão a tomar expressão em Ribeira Grande de Santiago.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

[0496] Resultados da corrida entre São Martinho Grande e Cidade Velha

Edy, Edmilson Jorge Ramos (com o dorsal 1231) foi o primeiro classificado (masculino) da corrida popular entre S. Martinho Grande e Cidade Velha hoje realizada, com 21 minutos e 30 segundos, guardando um prémio de 10 000$00; em segundo lugar a cortar a meta esteve Mantorras (dorsal 1223). Com o tempo de 22 minutos e 35 segundos, ganhando um prémio de 7 500$00; em terceiro lugar ficou Jamir, Vladimir Tavares (dorsal 1236l ), com o tempo de  23 minutos e 35 segundos  e prémio de 5 000$.

Em femininos, que partiram em local diferente de S. Martinho Grande por forma a encurtar a distância percorrida, ganhou Deusa Lopes (dorsal 12007) com o tempo de 19 minutos e trinta segundos.

[0495] Corrida de S. Martinho Grande a Cidade Velha

Inserida no quadro de competições desportivas das Festas de Nhu Santu Nomi di Jesus disputa-se hoje, dia 20, segunda-feira, 20 de Janeiro (Dia dos Heróis Nacionais), a corrida popular entre S. Martinho Grande e Cidade Velha, prova que se realiza pela primeira vez. Desdobrada em prélio masculino e feminino, estão em competição os três primeiros lugares.

domingo, 19 de janeiro de 2014

[0494] CIDADE VELHA 1492 publica pela primeira vez neste espaço um texto do Dr. Pedro Silva, patrono da Biblioteca de Cidade Velha - No caso, sobre a cidade portuguesa de Coimbra, onde tantos cabo-verdianos estudaram e estudam

Pedro Silva
COIMBRA, A CIDADE DO CONHECIMENTO

Publicação feita inicialmente na revista brasileira História Viva (Rubrica "Destinos").

Coimbra - Imagem antiga
Famosa por sua universidade, a mais importante de Portugal, Coimbra também tem um clima romântico da mitologia da primeira capital de Portugal. A cidade, durante séculos, também foi um centro intelectual “além-mar” do Brasil, nos períodos coloniais e do império.

Desde o século II a.C. o local hoje conhecido por Coimbra já era habitado. Primeiro sob a égide do Império Romano e, por volta de 711, os árabes chegaram, trazendo a cultura islâmica. É assim que a cidade funda as suas bases históricas, em uma fusão de culturas. Quando, em 1139, d. Afonso Henriques a torna capital do futuro país, Coimbra já é uma cidade madura, centro aglutinador de comércio. O rio Mondego, que rasga geograficamente a cidade, torna-a mais encantadora, encontrando-se com o mar ali perto, em Figueira da Foz, onde desagua no oceano Atlântico.

Túmulo de Inês de Castro - Mosteiro de Alcobaça
A cidade também foi palco do mais badalado e trágico romance da história portuguesa. No século XIV, algozes a mando de d. Afonso IV – Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco – degolaram Inês de Castro, a grande paixão do futuro rei de Portugal, D. Pedro, no mosteiro de Santa Clara. Isto levou a uma guerra civil entre irmãos, que terminou em agosto de 1355 com um tratado de paz proposto pela rainha Beatriz. Dois anos depois, Afonso falece e Pedro surge como oitavo monarca na linhagem portuguesa. O episódio toma contornos violentos quando, em Junho de 1360, o novo rei legitima os seus filhos com Inês, confirmando ter casado secretamente com esta em 1354. Depois perseguiu pessoalmente os assassinos da sua amada e todos foram executados (diz a lenda que a dois deles o coração foi arrancado, um pelas costas, outro pelo peito).

A história trágica do amor de Inês e Pedro é contada no canto III de Os Lusíadas, de Luís de Camões;

Coimbra - A Universidade 
“Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxutos,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas”.

Na actual Quinta das Lágrimas, há uma entrada para o lugar mítico onde, supostamente, Inês de Castro teria sido morta. Portanto, não é de estranhar que ervas avermelhadas dêem a impressão de ainda haver sangue no local, e a lenda de que as lágrimas vertidas pela donzela teriam enchido a actual fonte que ali jorra, de forma incessante, uma límpida água que alguns consideram como virtuosa no campo do amor.

Estudante e "tricana"
Coimbra é, acima de tudo, um local de ensino. A universidade já tinha existido antes em dois períodos distintos, 1309-1336 e 1354- 1377. Mas a principal razão para o título de cidade do conhecimento deve-se a, em 1537, d. João III ali ter fixado a actual Universidade de Coimbra (na época chamada de Estudos Gerais), que tornou possível o crescimento local ao redor deste pólo de cultura. Num ápice surgiram igrejas e colégios, dando ao povo religião e conhecimentos fundamentais na época.

De lá para cá, a cidade académica não parou de crescer e hoje em dia é um exemplo vivo de como cultura, centro histórico e modernidade conseguem conviver, de forma harmoniosa, em conjunto com a beleza natural de uma região.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

[0493] Irmandade dos Homens Pretos de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Ribeira Grande de Santiago

Nuno Rebocho
O blogue CIDADE VELHA 1462 tem a honra de oferecer em primeira mão aos seus leitores da Ribeira Grande de Santiago e a todos os interessados no tema este magnífico texto de Nuno Rebocho que versa assunto de notório interesse para a compreensão das antigas dinâmicas religiosas e sociais da primeira capital de Cabo Verde. O artigo está também publicado no blogue PRAIA DE BOTE.

Em contrário do mencionado em livros e documentos diversos (vg. “A importância histórica de Cidade Velha”, Daniel A. Pereira, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 2004 e “Cidade Velha – Sítio Histórico, Séc. XV”, PROIMTUR), a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos não pode ter sido mandada construir pela Irmandade dos Homens Pretos de Ribeira Grande, a ter-se em conta a vetustez do monumento (1).

Igreja de Nossa Senhora do Rosário
O templo foi erguido em 1493, segundo alguns autores - ou em 1495, segundo outros -, sendo a igreja mais antiga hoje existente em Cabo Verde e a sul do trópico de Câncer, feita em pedra especialmente vinda de Portugal, ostentando uma capela com teto manuelino, ogival (o único no continente africano) e possuindo restos da original azulejaria de fabrico português. Não se trata da igreja mais antiga construída em África: a mais antiga foi a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que inicialmente se chamou do Espírito Santo, que terá sido erguida em 1466 ou 1470, mas dela não existem hoje quaisquer vestígios – foi construída em pedra solta e barro, portanto menos rica e sólida, com baixela e alfaias de ouro e outras riquezas paramentais e religiosas (que foram pilhadas e algumas transferidas para a cidade da Praia), recebendo inicialmente algumas das pedras tumulares de famílias nobres e possidentes de Ribeira Grande de Santiago (portanto de origem reinol) observáveis na Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ao que se sabe, a nobreza reinol e algumas famílias “pardas” (crioulas) disputavam nestas igrejas, e mais tarde na Sé, o lugar de sepultamento.

Ora, a Irmandade dos Homens Pretos é decididamente posterior à fundação destas igrejas: inicialmente associação (instrumento) de defesa e solidariedade dos escravos africanos que começaram a chegar à ilha de Santiago depois de 1462 (data do início do seu povoamento), a Irmandade reflete a ação da Igreja Católica sobre eles, embora sirva também e muito para preservar tradições religiosas camufladas dos escravizados vindos de diferentes partes de África, sobretudo dos “rios da Guiné”. Nestas condições, a Irmandade dos Homens Pretos seria originariamente demasiado pobre para poder mandar alçar este templo em pedra, por conseguinte muito oneroso.

Demais, o facto da Igreja de Nossa Senhora do Rosário ser lugar de sepultamento disputado pelas famílias nobres, pelo menos até ao séc. XVII (data das pedras tumulares mais recentes na cidade encontradas), desde logo afasta a possibilidade de ser simultaneamente um lugar pertencente a uma Irmandade de Homens Pretos, escravos na grande maioria – os reinóis não eram obviamente dados a tamanhos “democratismos”. 

Por outro lado, a primeira carga de escravos, cuja referência é feita por Gomes Eannes de Azurara, in “Chrónica dos Feitos da Guiné” (capítulo VII), foi em 1442, sendo embarcados para Lagos - data que medeia apenas 50 anos antes da construção da Igreja, tempo então demasiado curto para conceber que já houvesse este tipo de Irmandade. E desde cedo apareceram os “fujões” (escravos escapulidos do cativeiro e internados na ilha que, apesar de ser geograficamente uma “prisão”, dispunha de bons lugares de refúgio). Mas esta é também uma forma de povoamento objetivo, o dos “badios” (palavra crioula que designa “evadidos” e designa os naturais da ilha de Santiago). A “fuga” é a primeira manifestação de resistência (negação) à escravatura, na busca de uma liberdade ansiada.

Cidade Velha - Vista da "baixa"
Para a neutralizar, formaram-se grupos de “caça aos fujões” (de que há memórias documentais), alguns deles integrando escravos que também participavam nesta atividade extremamente lucrativa a qual terá dado origem a uma camada de “aristocracia escrava” (chamemos-lhe assim) de onde emergiu mais tarde a Irmandade dos Homens Pretos (já da confiança dos reinóis possidentes e por estes beneficiados). Há notícia de que os “fujões” se agruparam em alguns quilombos (lugares fortificados) onde resistiram de armas na mão aos seus perseguidores. Tal processo curiosamente também se afirmou, em anos posteriores, no Brasil, onde se formaram muitos e tendo duração variável.

Mais operacional terá sido outro processo de neutralizar as fugas – a construção de muralhas rodeando a cidade e que ainda são hoje visíveis em cutelos de Cidade Velha.

O aparecimento da Irmandade

Terá sido desta massa de caçadores de “fujões” que saiu parte substancial da Irmandade, que – por via dela – obteve uma capacidade associativa alentadora, quer em forma de defesa, de solidariedade e de apoio. Juntaram-se-lhe forros que foram aparecendo, a par de escravos senhores de escravos que se internavam, como “lançados”, na região dos Rios da Guiné e que, ocupados no tráfico de escravos, resistiram melhor às condições do meio. Estes escravos foram granjeando algum capital próprio e para as suas iniciativas – há deles copiosas notícias. E juntou-se uma massa de descendentes de escravos, semilivres, que mesmo sendo a “camada superior da plebe”, se situavam numa área inferior da sociedade. 

Em fins do séc. XVII, inícios do séc. XVIII e até à extinção da Irmandade com o episódico desaparecimento da Ribeira Grande (o que acontece pouco depois da ascensão da Praia a capital do País – em 1770), a Irmandade é já constituída tão só por homens livres (“pardos”) e assume plenamente a dignidade de ter igreja sua. De resto, a existência de clero negro era um facto visível em Ribeira Grande, fruto da crioulização começada a tecer pelo terceiro bispo da diocese criada em 1533 (31 de janeiro), D. Francisco da Cruz, e que merece especial referência do Padre António Vieira, em 1652, aquando da sua passagem por Ribeira Grande, a caminho do Brasil: “Há aqui padres tão negros como azeviche. Mas só neste particular são diferentes dos de Portugal, porque tão doutos, tão morigerados, tão bons músicos que fazem inveja aos melhores das melhores Catedrais de Portugal"

Pe. António Vieira - Retrato de autoria desconhecida
Em 1612 há notícia de que havia em Ribeira Grande sete confrarias/irmandades (2): a do Santíssimo Jácome, a do Bem-Aventurado S. Jacinto, a da Cruz, a das Almas do Purgatório, a da Santíssima Trindade, a do Nome de Jesus e a de Nossa Senhora do Rosário (que depois ganhou o nome de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos), de que era mordomo Diogo Sousa, e a que se veio a juntar a do Santo Sacramento e outras. Deve portanto concluir-se que a Irmandade, nascida na igreja de Nossa Senhora do Rosário e a partir de escravos e seus descendentes, só depois teve o nome de “Homens Pretos”. E que, apenas depois dessa data, é que ela se apossou da Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

Assim, terá sido progressivamente que esta Irmandade se afirmou: insuflada pelos frades dominicanos, veio aos poucos ganhando espaço, começando por ser uma congregação menor e desqualificada. À medida que os “pardos” e os “homens da terra” foram ganhando posição, até por força da progressiva desintegração da sociedade reinol, a Irmandade reforçou-se até que, com o apoio de um bispo de extração dominicana, fez-se a principal confraria de Ribeira Grande, sediada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que aliás os Homens Pretos terão ajudado a construir (resta saber em que moldes o fizeram – que se saiba, não existe documentação).

Quando o esclavagismo é abolido – em Inglaterra tal foi imposto por lei em 1807 e em todo o império português por lei de 1836, embora no continente português o tenha sido por lei do Marquês de Pombal em fevereiro de 1761 – já a Irmandade tinha enorme importância em Ribeira Grande, burgo já reduzido a muito pouco e pobre devido à perda do domínio das rotas comerciais e marítimas, dando-se o seu afundamento na memória dos tempos - outrora imponente, concentrava num reduzido espaço um total de 24 igrejas (entre elas a igreja de S. Roque, a da Conceição, a de S. Pedro, a da Misericórdia, a Sé, a de Nossa Senhora do Rosário, a capela de Monte Alverne, a capela de Santa Luzia) e capelas, muito clero, enfim quase uma “Braga de Cabo Verde”. Na sede do bispado havia o cabido com o bispo, um deão, um pregador, um tesoureiro, um arcediago, um chantre, um mestre-escola, um provedor, um vigário-geral e 12 cónegos. A esta estrutura eclesiástica havia que somar as Ordens, a Mesa da Consciência, os párocos das diferentes paróquias, o convento, o hospital, as Irmandades, os funcionários administrativos ao serviço da igreja; percebe-se a enorme dimensão da estrutura clerical e a importância que ela assumiu na sociedade de Ribeira Grande de Santiago.

Uma emanação dominicana
Imagem da Sé

A Irmandade dos Homens Pretos, heterogénea na sua composição, terá assim aparecido talvez em fins do séc. XVI, animada por padres dominicanos radicados em Ribeira Grande de Santiago, que tiveram um papel importante na capitania e no povoamento. Digamos que a Irmandade surge com complemento da ladinização dos escravos – é uma etapa superior da escravatura, mas integra apenas os escravos que mereceram a confiança dos proprietários. Não existem documentos que permitam balizar o seu surgimento. E quando a Ribeira Grande recebe – em 1610 - o seu sétimo bispo, Frei Sebastião de Ascenção, ordenado dominicano, a Irmandade teve enorme impulso, aproveitando-se da particular estima que o prelado tinha pela igreja de Nossa Senhora do Rosário – onde este bispo foi sepultado – como tinha pela Confraria dos Homens Pretos, nascida sob influência dominicana, enorme apoio. Deste modo, a Irmandade tornou-se então a principal congregação de “irmãos”, correspondendo à circunstância de Nossa Senhora do Rosário se ter então tornado na principal igreja de Ribeira Grande. 

A Ordem mendicante dominicana, essencialmente urbana, foi fundada por Domingos de Gusmão (um cónego castelhano nascido em 1170 e falecido em Bolonha em 1221), depois da experiência obtida no combate aos cátaros e a sua falhada conversão: referida como Ordem dos Pregadores, surgiu no sul de França, apresentando-se de início como um ramo da Regra de Santo Agostinho (devido às limitações impostas pelo Concílio de Latrão, que proibia a criação de novas Ordens) e adotando então o voto de pobreza. Em 1221, com a aprovação das suas regras de funcionamento no primeiro Capítulo Geral da Ordem, ganhou um certo cariz democratizante no qual todos os cargos, do mais alto (mestre geral) ao mais pequeno, sempre exigia a respetiva eleição, dando-lhe um caráter não elitista, muito voltada para a burguesia emergente, os pequenos artífices e operários. No anto, por bula do Papa Gregório IX (1233), a Regra Dominicana identificou-se com o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição), tornando-se maligna arma de combate às correntes que eram tidas como hereges. Devota de Nossa Senhora do Rosário, foi muito influente em Cabo Verde e, de modo geral, nas colónias ultramarinas de Portugal e Espanha.

São Domingos, por Fra Angelico
Em Ribeira Grande de Santiago verifica-se a partir dos fins do séc. XII um processo de decomposição e decadência da sociedade reinol, devido a diversos fatores que a levam a perder o predomínio no tráfico negreiro. Os senhores aceitam começar a misturar-se, sob rígidas condições, com a plebe que povoava as tabernas, a doca, os bordéis – é um facto que evidencia já a queda dos senhores, acossados pelos corsários e portanto dispostos a cedências perante o “inimigo interno”. Tal facto marca a época filipina (são deste tempo as últimas pedras tumulares de que há memória). É nessa altura, socorrendo-se da crise económica avassaladora, que a Irmandade se lança à ocupação de um templo que lhe é historicamente anterior. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário passa a ser dos Homens Pretos.

Não se sabe a data exata do nascimento da Irmandade dos Homens Pretos de Ribeira Grande de Santiago. Todavia, nunca poderá ser antes do séc. XVI – não existem documentos sobre ela - os escravos e seus descendentes eram analfabetos (3). Pode intuir-se que deve ter surgido, por influência dominicana, durante os anos quinhentos (na melhor das hipóteses), procedendo de pouco a Irmandade do mesmo nome criada em Lisboa com as mesmas razões que lhe deram origem e antecedendo iguais Irmandades criadas no Brasil, em São Paulo e Bahia, nos sécs. XVII e XVIII – é de admitir que a experiência cabo-verdiana tenha de algum modo servido, transmitida por algum escravo para lá levado, para impulsionar igual movimento brasileiro.

Artesanato da Cidade Velha
Estas Irmandades de Homens Negros foram formas de resistência negra aos terra-tenentes como o foram as revoltas e a fuga de escravos, havendo notícia da formação de (tal como no Brasil) dois ou três quilombos no interior do Município. Mas a igreja de Ribeira Grande era profundamente escravocrata: não só padres eram donos de escravos como as suas receitas provinham essencialmente (direta ou indiretamente) do tráfico particularmente dos rios da Guiné. Pelo menos, a igreja recusava-se a dar apoio às expressões anti-esclavagistas que começavam a aparecer, com algumas poucas exceções – por exemplo as do padre jesuíta Fernão Guerreiro, que se indignou e combateu alguns “excessos” transparecidos num seu significativo documento “entre os muitos abusos que havia nesta terra, um grande se tinha no batismo dos pretos que vêm da Guiné. Que como são muitos, se batizavam logo trezentos, quatrocentos e setecentos juntos; e como destes os mais são os que vão daqui para Índias, Brasil, Sevilha e outras partes, acontece que muitas vezes que pela pressa da embarcação que seus senhores lhes dão por não perderem a ocasião do tempo, o não deixam ter aos pobres para serem catequizados e instruídos na fé como convém…” (4); e o bispo D. Vitoriano Portuense que ousou intervir no tráfico negreiro com excomunhões, denunciando a superlotação de navios e as condições de embarque, como ausência de batismo e de catequização dos escravos. São vozes isoladas que, mesmo assim, desencadearam protestos dos possidentes, do Reino e da própria igreja – foi acusado de provocar graves prejuízos e de “excessos”. Estas vozes timidamente progressistas surgiam a destempo para ter algum efeito.

Imagem da Sé, mandada construir no séc. XVII pelo terceiro bispo de Santiago, D. Francisco da Cruz


Os “irmãos” da Irmandade eram, como o nome indica, pretos libertos que, tornados cidadãos, encontravam na associação modo de ganhar algum relevo na sociedade. Tinham uma mesa da Irmandade, com os seus secretários, liderado por um mordomo que era eleito entre os mesários. No Brasil estes “irmãos” recebiam o nome de “malungos” 5.

Século e meio de Bispado de Santiago (Ribeira Grande)

Diocese desde 1533 (31 de Janeiro), por ela passaram os mais diversos bispos, estando nos intervalos o bispado estado em regime de vacatura gerido correntemente pelo cabido – devido a falecimento do bispo, demoras em Lisboa e outras razões. Todo bispado era por isso afetado, dado que cabia ao pontífice, e só a ele, nomear prelados. Enquanto o bispado esteve sediado em Ribeira Grande houve os seguintes bispos:

- Dr. Brás Neto – tomou posse em 1533
- D. João Parvi – de 1533 a 1596
- D. Francisco da Cruz – até 19 de Março de 1574 (falecimento)
- D. Bartolomeu Leitão – de 1576 a 1580
- Frei Pedro Brandão – de 1588 a 1606 – longo litígio com a coroa e os nobres de Ribeira Grande; comandou a resistência aos corsários
- D. Luís Pereira de Miranda – tomou posse em Lisboa em 1607, mas só chegou à diocese em 1608, tendo falecido um mês depois.
- Frei Manuel Afonso da Guerra
- Frei Sebastião de Ascensão – faleceu a 16 de Março de 1614
- D. Lourenço Garra – 1646, faleceu a 1 de Novembro desse ano. 
- D. Francisco de Santo Agostinho – fugiu para o interior da ilha aquando do ataque de Jacques Cassard a Ribeira Grande de Santiago e de lá conduziu o contra-ataque contra os franceses.
- D. Frei Vitorino Portuense

Síntese
A Irmandade dos Homens Pretos, associação religiosa de solidariedade, terá aparecido por influência dominicana no séc. XVI (está por saber como se verificou tal influência). Com a decadência da sociedade reinol, ganhou progressiva importância até à sua sediação na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, tornando-se no séc. XVII, por força do bispado de D. Frei Sebastião da Ascensão (também ele dominicano) na mais influente Irmandade existente em Ribeira Grande.

Notas

1. Sabe-se que alguns “Homens Pretos” (provavelmente escravos ou “pardos”, crioulos) ajudaram na sua construção, mas desconhece-se em que moldes. Mas daí a concluir-se que a Irmandade a tenha mandado erguer vai um passo demasiado largo e impossível de ser dado sem a mínima prova não contestável.

2. Vinte e quatro igrejas, sete irmandades, grande peso do clero na população, uma sé, uma escola jesuíta (que ambicionava ser seminário – foi ponderado em tempo de D. Sebastião, mas nunca passou do papel): Ribeira Grande teve tudo para ser a “Braga de Cabo Verde”. No entanto, tal como a cidade sofreu enorme decadência que levou ao seu desaparecimento em consequência da crise económica e social que sobre ela se abateu, os seus templos foram caindo em ruínas: no séc. XVIII não havia mais que memória da antiga grandeza da “cidade do mais antigo nome”.

3. A existir qualquer documento referente à Irmandade e à Igreja de Nossa Senhora do Rosário só, em princípio, se achará no acervo dominicano ou excecionalmente em qualquer documento avulso. Sendo certo que a Igreja Católica teve papel importantíssimo na colonização, não é conhecido que ela tenha em Cabo Verde apetências historiógrafas, se bem que só tenha que se vangloriar do seu passado.

4. In “Relação anual das coisas que fizeram os padres da Companhia de Jesus nas missões, noa anos de 1600 a 1609 e do processo de conversão e cristandade daquelas partes”.

5. Os idiomas bantu – segundo Prof. Kabengele Munanga, festejado antropólogo nascido no Congo e docente na Universidade de São Paulo - variam os seus substantivos por prefixação e seus principais plurais são ba – por exemplo – ma – de mashona, plural de shona, ou mashope, plural de mashope– e wa. Lungo, em grande parte destes idiomas, dentre os quais o quimbundo, mais ou menos predominante entre os angolanos escravizados que chegaram ao Brasil, significa amigo, mas com sentido mais amplo que o que tem em português; malungo, por esta linha, seria amigos, companheiros, aqueles que, de algum modo, partilham algum momento significante de vida: a senzala, o transporte no mesmo navio, etc., etc. Em shangana, língua de Moçambique, existe mulungo (termo que designa o homem branco, o que de certa forma reflete uma atitude de apropriação, num sentido igualitário, de qualidades invejadas no ex-dominador). Nota enviada pelo estudioso brasileiro Ademir Barros dos Santos.

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