sexta-feira, 28 de março de 2014

[0538] Geminação de Cidade Velha com Ilha de Moçambique - Amanhã será assinado o acordo

No Auditório da Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago é assinado amanhã, sábado, 29 de Março, às 15 horas, o protocolo de geminação de Ilha de Moçambique com Cidade Velha. O acto leva as assinaturas de ambos os presidentes das duas municipalidades, respectivamente os senhores Abdurrame Amur Gimba e Manuel Monteiro de Pina.

Com esta assinatura, muito se espera da colaboração entre estas duas cidades do Património Mundial – a segunda de África com que Cidade Velha tem acordos de geminação. São já doze as cidades geminadas com o Berço da Nação cabo-verdiana, designadamente Guimarães, Lagos, Golegã, Odivelas, Trancoso (Portugal), Ribeira Grande de São Miguel (Açores), Gorée (Senegal), Lobata (S. Tomé e Príncipe), Cacheu (Guiné-Bissau), Praia e S. Filipe do Fogo (Cabo Verde), sublinhando assim o cosmopolitismo de Cidade Velha.
Em reforço do significado que o Berço da Nação cabo-verdiana assume no contexto internacional são três as urbes pertencentes ao Património Mundial - Guimarães, Gorée e Ilha de Moçambique – geminados com Cidade Velha.

quarta-feira, 26 de março de 2014

[0537] Geminação de Cidade Velha com Ilha de Moçambique

No Auditório da Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago é assinado no sábado, 29 de Março, às 15 horas, o protocolo de geminação de Ilha de Moçambique com Cidade Velha. O acto leva as assinaturas de ambos os presidentes das duas municipalidades, respectivamente os senhores Abdurrame Amur Gimba e Manuel Monteiro de Pina.

Com este protocolo são já doze as cidades geminadas com o Berço da Nação cabo-verdiana, designadamente Guimarães, Lagos, Golegã, Odivelas, Trancoso (Portugal), Ribeira Grande de São Miguel (Açores), Gorée (Senegal), Lobata (S. Tomé e Príncipe), Cacheu (Guiné-Bissau), Praia e S. Filipe do Fogo (Cabo Verde), sublinhando assim o cosmopolitismo de Cidade Velha.
Em reforço do significado que o Berço da Nação cabo-verdiana assume no contexto internacional são três as urbes pertencentes ao Património Mundial - Guimarães, Gorée e Ilha de Moçambique – geminados com Cidade Velha.

[0536] Ribeira Grande de Santiago assinala "Dia da Mulher Cabo-Verdiana" com um Pôr-do-Sol Poético

A Câmara Municipal da Ribeira Grande assinala - em parceria coma Curadoria de Cidade Velha, o SOCA (Sociedade Cabo-verdiana de Autores) e o Espaço Pôr-do-Sol - dia 28 de Março, sexta-feira, no Hotel Pôr do Sol (Cidade Velha), às 18 horas a III Edição de um simbólico Pôr-do-Sol Poético, o qual será abrilhantado por diversos intérpretes musicais, entre os quais Daniel Spencer, e no qual serão declamadas poesias de Danny Spínola e outros autores.

[0535] Dia Mundial da Poesia e plantação de árvores em Cidade Velha e Porto Mosquito

Para assinalar o Dia Mundial da Poesia (21 de Março), estabelecido pela ONU, a Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago – com a colaboração da Curadoria de Cidade Velha – organizou com os jovens alunos da Escola EBI de Cidade Velha a III Edição da Árvore da Poesia, colocando dependuradas na oliveira da Rua Calhau poemas seleccionados com cooperação dos professores. Depois deste evento – que uma vez mais se repetiu, dando ênfase a um doa símbolos do Berço da Nação -, seguiu-se uma sessão de Poesia no Largo do Pelourinho.

O Dia Mundial da Árvore (21 de Março) foi adequadamente assinalado na Ribeira Grande de Santiago com a plantação de copiosas árvores frutícolas em Cidade Velha e Porto Mosquito por jovens alunos das Escolas EBI de ambas as localidades. No Berço da Nação as plantas foram implantadas sobretudo no seu jardim, estando reservada - para melhor oportunidade - nova plantação nas suas encostas, tanto de árvores frutícolas como decorativas. Este esforço de arborização, feito com a colaboração do Ministério do Desenvolvimento Rural, visa o embelezamento das localidades do município, obrigando a especiais cuidados em retirar da via pública os animais que têm andado à solta e procura aliviar a cobertura do seu território com acácias que não têm qualquer utilidade, a não ser a de fixar o solo. 










quinta-feira, 20 de março de 2014

[0534] Dia Mundial da Árvore e da Poesia

A Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago promove amanhã, quinta-feira, 21 de Março, a partir das 9h00 – em colaboração com o Ministério do Desenvolvimento Rural -, de plantação de árvores frutícolas no jardim de Cidade Velha (em S. Sebastião) e em Porto Mosquito, contando para tanto com a participação de muitos jovens e de elementos da população.

Assinala-se deste modo o Dia Mundial da Árvore, que – no hemisfério norte – é comemorado nesta data. Mas porque também é Dia Mundial da Poesia, a Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago promove ainda - em parceria com a Curadoria da Cidade Velha e com a Subdelegação da Educação do Concelho de RGS (e a colaboração das EBI de Cidade Velha e Porto Mosquito) -  a Árvore da Poesia, um conjunto de atividades que visa proporcionar aos residentes e visitantes momentos de intensa interacção com a nossa cultura, aproveitando as datas comemorativas com o melhor simbolismo.

A partir das 15h00 de amanhã realiza-se a III Edição da Árvore da Poesia, com as crianças a colocar poesias já trabalhadas nas aulas numa oliveira que se encontra no largo da Rua Calhau e posteriormente aí declamadas. A participação de alunos de Porto Mosquito proporciona a este evento momentos de intercâmbio entre alunos das duas localidades, permitindo diversificar o público-alvo.

terça-feira, 18 de março de 2014

[0533] Manuel Monteiro de Pina em Espanha

Para participar em reunião de projectos – de Estudos de Caso, de Juventude e Património, de Acessibilidade e Património e de Artesanato e Património - da Secção Regional Europa-Sul da Organização das Cidades Património Mundial, OCPM, a realizar em Granada nos dias 2 e 3 de Abril próximos, o Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, Dr. Manuel Monteiro de Pina, desloca-se no fim do mês ao sul de Espanha (Andaluzia).

Esta deslocação em trabalho é comprovativa do prestígio internacional que Cidade Velha, o Berço da Nação cabo-verdiana, vem ganhando, o que tem reflexos na atracção de turistas que “a cidade do mais antigo nome” está progressivamente a receber, com óbvios benefícios para a sua população.

segunda-feira, 17 de março de 2014

[0532] Dia Mundial da Poesia e da Árvore

Cumprindo o que já é uma tradição de Cidade Velha, a Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago promove no próximo dia 21, sexta-feira, a Árvore da Poesia – um conjunto de actividades que visa proporcionar aos residentes e visitantes momentos de intensa iteração com a nossa cultura, aproveitando essas datas comemorativas com o melhor simbolismo.

Assim, em parceria com a Curadoria da Cidade Velha e com a Subdelegação da Educação do Concelho de RGS (e a colaboração das EBI de Cidade Velha e Porto Mosquito), a Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago organiza na Rua Calhau, no Berço da Nação, a partir das 15h00, a III Edição da Árvore da Poesia. Nessa data e hora, as crianças devem trazer poesias já trabalhadas nas aulas, com o acompanhamento do respectivo professor (a): as poesias serão penduradas numa oliveira que se encontra no largo da Rua Calhau e posteriormente serão declamadas. A participação de alunos de Porto Mosquito proporciona a este ato momentos de intercâmbio entre alunos das duas localidades e permite diversificar o público-alvo.

Entretanto, no mesmo dia, mas às 9h00 – em colaboração com o Ministério do Desenvolvimento Rural -, tendo a participação de muitos jovens e de elementos da população serão plantadas árvores no jardim de Cidade Velha (em S. Sebastião) e em Porto Mosquito.

sábado, 15 de março de 2014

[0531] Deputados do MpD visitam cadeia de S. Martinho Pequeno

Em complemento da visita efectuada este fim-de-semana pelos deputados à Assembleia Municipal do MpD (Movimento pela Democracia) em Ribeira Grande de Santiago a todo o Município, voltaram hoje, sábado, 15 de março, pelas 11h00, à cadeia de S. Martinho Pequeno, visita que fora adiada dado que aquele estabelecimento prisional estava em obras e, portanto, havia neles reconhecidos problemas de segurança. Uma vez que esta bancada de modo algum é indiferente aos problemas vividos per aquela população prisional, para deles se inteirar aproveita este momento para a realização dessa visita.

sexta-feira, 7 de março de 2014

[0529] Txuba Txobi e Mosquito Horta já têm iluminação pública (energia solar)

Imagem não oficial, meramente ilustrativa
Mais um importante passo foi dado para a futura electrificação integral de todo o Município de Ribeira Grande de Santiago durante uma visita de trabalho que hoje, sexta-feira, 7 de Março, foi feita por uma missão conjunta da sua Câmara Municipal e da Direcção Geral de Energia à localidade de Pico Leão/Txuba Txobi: com a colocação de postes eléctricos transferidos de Chã Gonçalves, onde antes se encontravam, tanto Txuba Txobi como Mosquito Horta passam agora dispor de iluminação pública, através de energia solar. 

As habitações de Chã Gonçalves já recebem entretanto energia eléctrica, o que é um importante avanço na sua electrificação. Uma vez praticamente concluída a instalação da rede de distribuição de água ao domicílio em todo o município, a sua completa iluminação, bem como a melhoria da já nela existente, é uma das prioridades que neste momento se coloca e que mobiliza as atenções da sua Câmara Municipal.

[0528] Visita a Ribeira Grande de Santiago de deputados do MpD


De visita oficial ao Município da Ribeira Grande de Santiago nos próximos dias 8 (sábado) e 9 de Março (domingo) vão estar os deputados à Assembleia Nacional por parte da bancada do Movimento para a Democracia, MpD, cujo programa se insere:


DIA 8
INICIO, 09h00 - LÊM DIAS, PONTA DO SOL, DJOBI, CADEIA CIVIL, JOÃO VARELA E SALINEIRO

DIA 9
INICIO, 09h00 - SANTANA, BELÉM, TRONCO E PICO LEÃO

[0527] Prémio Dr. Pedro Silva


Assinalando a futura inauguração e abertura da Biblioteca Municipal de Ribeira Grande de Santiago Dr. Pedro Silva (nome do benemérito português que lhe ofertou grande parte do seu recheio e Cidadão Honorário de Cidade Velha), que se prevê que seja instalada provisoriamente em São Martinho Grande – onde decorrem obras para esta instalação -, está a decorrer até dia 30 de Abril próximo a recepção de candidaturas de originais de livros concorrentes ao Prémio Literário Pedro Silva. O júri do PLPS é composto por 5 elementos:

• Dr. Pedro Silva – historiador e escritor português;
• Dr. Carlos Alberto Lopes – vereador da Cultura na CMRGS;
• Prof. Dr. João Lopes Filho – historiador, escritor e sociólogo cabo-verdiano, e presidente da Fundação João Lopes;
• Dr. Joaquim Saial – professor, historiador e crítico de arte português, ex-director da revista Callipole, Cidadão Honorário de Cidade Velha;
• Nuno Rebocho – escritor e poeta português, indicado por dr. Pedro Silva

e deverá reunir a partir do dia 1 de Maio, devendo pronunciar-se até 31 de Maio, de acordo com um regulamento fixado.
O PLPS prevê a publicação do original vencedor pela editora EUIDITO.
Os originais concorrentes a este Prémio deverão ser entregues em envelope fechado e lacrado na Secretaria da Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago – Rua do Calhau 02, Cidade Velha, ilha de Santiago, Cabo Verde – até 30 de Abril, assinado por pseudónimo, acompanhado por carta com identificação do pseudónimo por nome objectivo do autor, que apenas será aberto. Fica deste modo salvaguardada a imparcialidade da apreciação da escolha.
O PLPS será entregue em cerimónia pública após a inauguração da Biblioteca Municipal.

Recorda-se o Regulamento do PLPS

Regulamento do Prémio Literário «Pedro Silva»

Introdução

Subjacentes à criação deste Prémio Literário estão três motivações fundamentais: em primeiro lugar, a divulgação da literatura cabo-verdiana, a referência ao escritor e patrono da Biblioteca Municipal, Pedro Silva, e a vontade de incentivar o gosto pela escrita e pela leitura. 

Artigo 1.º
O Município de Ribeira Grande de Santiago, com sede em Cidade Velha, institui o Prémio Literário Pedro Silva, destinado a nascidos e residentes em Cabo Verde, e que será realizado por uma (1) única vez.

Artigo 2.º
O Prémio Literário Pedro Silva tem como âmbito o premiar um trabalho inédito na área literária definida como Ficção/Conto. O prémio será a publicação em formato impresso (livro) nas publicações Euidito. Os segundo e terceiro classificados receberão uma Menção Honrosa. Tanto o lançamento da obra vencedora, quanto a entrega das menções honrosas, acontecerão no mesmo dia, a marcar em 2014, depois da inauguração da Biblioteca.

Artigo 3.º
Podem concorrer todos os naturais ou residentes em Cabo Verde.

Artigo 4.º
Cada concorrente poderá apresentar um máximo de uma obra original, tendo de obedecer aos seguintes parâmetros:
* Redigido em língua portuguesa 
* Máximo de 125 páginas de formato A4, com espaço duplo entrelinhas e tamanho 12 no corpo da letra, sendo a opção o Times New Roman;
* Os originais deverão ser enviados, sob pseudónimo, por correio registado para: (INSERIR MORADA DA Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago) 
* Os originais devem seguir em uma cópia impressa e uma cópia em CD/DVD ou outro sistema informático que permita a leitura no computador;
* Com os originais deverá seguir um envelope fechado, contendo os dados referentes ao autor;
* Os trabalhos devem ser entregues até 30 de Abril.

Artigo 5.º
O trabalho que, pela sua qualidade literária, mais se distinga entre os autores naturais ou residentes de Cabo Verde será publicado como contrapartida pela distinção.

Artigo 6.º
Caberão ao Município da Ribeira Grande de Santiago todos os direitos sobre a primeira edição do trabalho premiado, comprometendo-se este a oferecer ao respectivo autor 10 exemplares, considerando-se os direitos de autor regularizados desta forma. 

Artigo 7.º
Poderão, ainda, ser atribuídas menções honrosas às duas obras classificadas em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Estas Menções Honrosas terão a forma de um Diploma.

Artigo 8.º
A entrega dos prémios será feita em sessão pública a determinar pela Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago.

Artigo 9.º
O júri será composto por: 
* Presidente Honorário (dr. Pedro Silva)
* Um membro indicado pela Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, pelo seu vereador da Cultura
* Uma personalidade reconhecida pelo seu mérito intelectual – prof. João Lopes Filho
* Um Cidadão Honorário da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago (dr. Joaquim Saial)
* Nuno Rebocho, escritor português indicado por dr. Pedro Silva.

Artigo 10.º
O júri poderá não atribuir qualquer prémio, caso considere que os trabalhos apresentados não reúnem condições de qualidade que o justifiquem. 

Artigo 11.º
Os casos omissos ou as divergências na interpretação do presente regulamento serão solucionados pelo júri. 

Artigo 12.º
Das decisões do júri não haverá recurso. 

Deste modo, ficam abertas (até 30 de Abril) as candidaturas a este Prémio.

[0526] Quilombos em Cabo Verde e Brasil (2/2)

Continuação do texto de Ademir Barros dos Santos e Nuno Rebocho, iniciado no post anterior

Cap. III

Quilombos em África – aringas e djulangues

O aparecimento de expressões organizativas similares aos quilombos surgiu em quase todas as áreas do continente africano onde a escravatura, desde que – em 8 de janeiro de 1454 - o papa Nicolau V autorizou os portuguesas ao tráfico de escravos africanos e este se tornou um facto, sejam elas de expressão portuguesa, francesa, belga, inglesa ou alemã. Quase sempre correspondeu, independente do nome que recebeu por parte desses escravos, a formas de luta contra o esclavagismo, mas por vezes foi também a tradução de uma resistência armada ao ocupante europeu.

Medalhão abolicionista britânico
Conta Gomes Eannes de Zurara que primeira leva de escravos vindos de África foi em 1442 (“Chrónica dos Feitos da Guiné” , capítulo VII), foi em 1442: “começaram os mareantes de carregar seus batéis e tirar aqueles cativos para levarem segundo lhes fora mandado: os quais postos juntamente naquele campo, eram uma coisa maravilhosa de se ver. Que entre eles havia alguns de razoada brancura, formosos e apostos; outros menos brancos, que queriam semelhar pardos; outros tão negros como etíopes. Tão desafeiçoados assim nas caras como mos corpos que quase parecia aos homens que os esguardavam, que viam as imagens do hemisfério mais baixo (…) É assim que antes viviam em perdição das almas e dos corpos, vinham todos de perceber o contrário: das almas, enquanto eram pagãos, sem claridade e sem iume de santa Fé. Por viverem assim como bestas sem alguma  ordenança de criaturas razoáveis, que aqueles não sabiam o que eram pão nem vinho, nem cobertura de pano, nem alojamento de casa; e o pior era a grande ignorância que em eles havia, pela qual não haviam algum conhecimento de, somente de viver em uma ociosidade bestial”.
Desde então a resistência verificou-se. Referimos alguns desses casos. Entre outros:

Em S. Tomé
Fotografia do Rei Simão Andreza
Pode considerar-se como uma forma de quilombo o reino dos angolares existente em fins do séc. XV em S. Tomé – teria tido origem no naufrágio de um barco de escravos ocorrido na região sudeste da Ilha de S. Tomé, mais concretamente na região de Sete Pedra a 4 km da costa, ou na fuga de escravos escapados por volta de 1470, cujo chefe foi o lendário Rei Amador, o qual teria sido traído por um dos seus. Mas os angolares permaneceram e em 1890 foi fotografado o Rei Simão Andreza pelo pai escritor e pintor português Almada Negreiros, António Lobo de Almada Negreiros, militar colonial.

Ainda hoje uma região da ilha de S. Tomé alberga um povo de angolares, embora a sua origem angolana seja duvidosa: para alguns autores, eles seriam provenientes de tribos da costa africana, porventura do Golfo da Guiné, que teriam chegado ao arquipélago pelos seus próprios meios muito antes da chegada dos portugueses, internando-se na ilha e criando o seu próprio reino.

Em Angola
Quando em 1490, os missionários católicos chegaram ao reino do Congo e no ano seguinte se iniciou a resistência do rei manikongo da Nzinga Nkuwu, os escravos angolanos começaram também a sua oposição aos senhores. 

D. Anna de Sousa (nome cristão da rainha angolana Nginga ou Zingha, Ngola Kiluanji), da tribo mbundu, no então território Ndongo, era meio irmã de Ngola Mbandi e foi por este enviada a Luanda conferenciar comos portugueses que ali sediavam, onde reclamou ao respectivo governador-geral a devolução do território por estes ocupados em troca da sua conversão ao cristianismo. Todavia, os portugueses não respeitaram o tratado de paz, o que motivou a guerra. 

Com grande bravura, Kiluanji criticou as hesitações de seu meio-irmão e, ao que se crê, mandou envenená-lo e tomou o comando da resistência. Aliou-se aos guerreiros jagas, do Oeste, renegou a fé católica e criou um quilombo que tenazmente se opôs aos europeus, impondo-lhes sucessivas derrotas. Conseguiu a união dos povos da Matamba, Ndongo, Congo, Kassanje, Dembos e Kissamba. Durante quatro décadas, até 1636, o seu poder se manteve sempre se opondo ao tráfico de escravos. Negociou então com os portugueses, obtendo a paz em troca da libertação de sua irmã Cambu (que depois adoptou o nome de Dona Bárbara). Levada pelos portugueses para Luanda, renunciou ao trono Ngola. Só pôde regressar a Matamba dez anos depois, falecendo com 82 anos. 

Rainha Nginga
quilombo da Rainha Ginga, também conhecido como o quilombo dos Dembos, tornou-se numa referência da história angolana.

No Congo
Sublevações de escravos registaram-se ao longo das épocas no Alto e Baixo Congos, tanto contra os ocupantes franceses (a escravatura só foi completamente abolida em França em 1848) como belgas, tornando-se um prolongamento das ações insurrecionais em Angola. Algumas tribos congolesas revoltaram-se. Como, por exemplo, os batshioks, da região do Kwango; em princípios do séc. XX, rebelaram-se os batetela contra a ocupação e a escravatura, refugiando-se no Katanga.

Em Moçambique
Particularmente no vale do Zambeze, surgiram as aringas (quilombos), situadas em pontos estratégicos, com escravos fugidos e armados (“achicunda” – que se levantaram em armas contra as companhias de plantação), os quais se prolongaram por todo o séc. XIX. Sabe-se que já no séc. XVIII se formaram entre outros quilombos na região de Sena (em Morrumbala e em Borongage), que chegaram a ter 400 homens, e em Cheringone (no Tete); e que, fugindo da ilha de Moçambique, muitos se refugiaram em áreas fortificadas de Ampapa, tendo surgido também na zona de Maganja da Costa (Angoche, a que os colonizadores chamaram de “República Militar”, na verdade um território reconhecido pelos portugueses e governado durante décadas pelos achicunda de João Bonifácio Alves da Silva).

Fugindo de prazo em prazo (companhias capitalistas assentes na agricultura), os escravos foram-se acantonando em quilombos que resistiram durante décadas. Mas além destes focos no norte de Moçambique, existem outras referências em diferentes zonas, como seja na região de Inhambane, no sul.

Em Cabo Verde
Cabo Verde foi outro caso em África. Existem várias referências à existência de quilombos no arquipélago, o que de resto se reflecte na linguagem corrente – por exemplo, diz-se “djon ki konxe otru djon” (o que, traduzido à letra, significará – “escravo (alguém) que reconhece outro escravo”, como ele perdido nas áreas de refúgio. Destacam-se pelo menos dois casos registados em diversos documentos:

a) O quilombo de Julangue
Há notícia de que, no interior de Santiago, em Julangue (zona rochosa de matagais e matos) os escravos se reuniram em quilombo por mais de 15 anos e que muitos forros a eles se juntaram, resistindo às tentativas do poder dominante para os neutralizar, que ocorrerem desde 1709. Sabe-se que, à medida que as forças dominantes minguavam, a sua resistência ia em crescendo, criando graves problemas aos proprietários.

Por ordem do governador de Cabo Verde Gonçalo Lemos Mascarenhas, alertado pelos alaridos que vinham do Brasil - onde os quilombos já iam aparecendo – e acicatado por indicações da coroa de Portugal (em carta de 1 de Fevereiro de 1709), ordenou que sobre eles marchasse uma coluna de 400 homens, comandada pelo capitão Francisco Araújo Veiga a fim de “prenderem uns negros forros régulos e levantados", o que é indicativo das condições em que então se achava a maioria dos rurais forros, que apenas diferiam dos escravos no grau de liberdade em que viviam.

Mercado de escravos em Argel - Grav. holandesa, séc. XVII
"O grupo rebelde não foi capturado e nem sequer mesmo disperso, isso apesar do grande aparato da expedição miliciana. Deve-se mesmo dizer que a tentativa de repressão, longe de inibir o fenómeno de fuga do cativeiro, terá mesmo contribuído para o seu recrudescimento. É o que, pelo menos, parece indicar o testemunho do ouvidor Xavier Lopes Vilella, dado um ano depois da ocorrência do evento em análise”. Foi assim que em 1710, Vilella calculava que "andavam mais de 600 escravos fugidos a seus senhores nas serras".

Cerca de 1718, foi preso um dos líderes deste movimento dos “valentes de Julangue” (assim os escravos a eles se referiam depois do embate então havido): Domingos Lopes (2) foi condenado à morte e executado "para que, por este caminho, se dê não só a satisfação à justiça no castigo deste negro, mas se evite a que os mais rompam em maiores ousadias e ponham em grande risco a conservação daqueles moradores, formando-se mocambos deles que não seja fácil conquistarem-se pois mostrou a experiência de Pernambuco o muito que gemerão os povos daquela capitania com os que ali houve, o quanto foi custoso pôr-se limite às suas insolências, havendo milícias pagas compostas de dous terços e tanta gente para o sujeitar o que não há em Cabo Verde..." (António Correia e Silva, "Da contestação social à transgressão cultural: forros e fujões na sociedade escravocrata cabo-verdiana".

b) O incidente de Monte Agarro
Argolas usadas para aprisionar e controlar  escravos
Além dos referidos “julangues”, há pelo menos a referência a outro grave incidente ocorrido no séc. XIX: em Dezembro de 1835, os escravos de Monte Agarro, a cerca de 4 quilómetros do Plateau na Praia, tentam invadir a capital para "matar todos os brancos donos de terras", o que revela o ódio acumulado contra os reinóis terra-tenentes, cujo racismo era por demais evidenciado em diferentes circunstâncias. Segundo escreve Sena Barcelos, um relatório preparado por um Juiz local aponta que "os escravos tencionavam obter a sua liberdade e para isso determinaram matar os seus Senhores e a seguir embarcar para a Guiné".

Esta revolta dos escravos foi duramente reprimida. Ficou todavia na memória das classes dominantes que viriam acabar por abolir oficialmente a escravatura no ano seguinte (1836), sendo portanto a última revolta conhecida contra o esclavagismo em Cabo Verde.


Cap. IV

O CASO BRASILEIRO

Escreve Ademir Barros dos Santos que Palmares, o primeiro grande quilombo brasileiro, aparece entre Alagoas e Pernambuco, provavelmente por volta de 1560 e dura até 1695. Confirmando a sua origem africana, o autor acrescenta que “é sintomático o nome que os quilombolas de Palmares deram à sua sociedade – Angola Janga: Pequena Angola”. E refere que “surpreende a identificação de conteúdos - se, na África, o quilombo jaga era liderado pelo guerreiro entre guerreiros, chefe intransigente dentro da rigidez da disciplina militar, não é diferente no Brasil: mesmo quando subdividido em aldeias ou mocambos, estes reportavam-se à liderança central, gerida pelo guerreiro dos guerreiros – em Palmares, Ganga Zumba primeiro; depois, Zumbi. Se. Em África, o quilombo era multiétnico, tendo claras finalidades político/militares, assim também no Brasil: todos os fugidos do sistema encontravam abrigo nesta instituição, cuja finalidade – escapar, opondo-se à estrutura dominante – torna-se sua própria razão de ser”.

Escravos numa sanzala
De acordo com o mesmo autor, “a instituição ‘quilombo’ talvez configure o módulo mais representativo de resistência à escravidão, quer por seu alcance territorial, quer por sua longevidade; mais ainda: pelo sentimento político que despertou; isto porque a formação de ‘quilombos’ não é fenómeno geograficamente localizado, acompanhando sempre o processo escravista”, havendo “em torno de cem ‘quilombos’ brasileiros, espalhados entre dez estados: lá estão dezassete em Sergipe, dezoito na Bahia, vinte e três em São Paulo, vinte em Minas Gerais...”. Por isso, sublinha ele, “o ‘quilombo’ não pode ser visto de forma estreita: lugar de negros fugidos, resultado de fugas inconsequentes, apenas; ele é resistência e atingiu o processo oficial de utilização de mão-de-obra de tal forma e com tanta intensidade, que “solapou as suas bases em diversos níveis – económico, social e militar”, influindo decisivamente, no dizer de Clóvis Moura, “para que esse tipo de trabalho entrasse em crise”.

Então, o autor assinala como a quilombagem evoluiu até à extinção oficial da escravatura. Escreve ele que “o corpo de reivindicações sociais negras cresce, podendo-se nele localizar, dentre outras, a Revolta dos Malês que, na Salvador de 1835, desperta medo e insegurança no poder central, quanto à manutenção do regime escravista; é de se notar, ainda, que esta Revolta vem precedida pela abolição da escravatura no Haiti que, já em 1791, levanta-se contra a França e proclama a própria independência”. “A partir de época em que acontece a Revolta dos Malês, o Brasil passa a assistir à morte lenta da escravidão que, em 25 de março de 1884, vê o Ceará expurgá-la de seu território; meses depois, Amazonas e Rio Grande do Sul o acompanham; no campo político, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, dentre outros, ecoam o que José do Patrocínio e seus pares pregam pelos jornais e pelas esquinas politizadas da capital e das províncias do país”.

E adiante: “Há que mencionar, ainda, a revolta dos Farrapos, no Rio Grande dos Sul, que tinha, à época, 100.000 negros entre a população de 360.000 habitantes: em pleno regime escravista, os farroupilhas, em 1835, decretam a liberdade, que dura até 1845, e o major João Manuel de Lima assume o comando da 1ª Legião de Escravos, com a qual entra na cidade de Pelotas. É neste ambiente em ebulição que surgem os chamados quilombos abolicionistas, dos quais Leblon, no Rio de Janeiro, e Jabaquara, em São Paulo, são os representantes principais”. 

Comunidade quilombola em Amapá
Da sua evolução histórica, o autor relata que “Jabaquara é comandado pelo negro Quintino de Lacerda; estabelecido em Santos, é mantido por colaborações recolhidas entre comerciantes e simpatizantes, e chega a acolher dez mil pessoas, em sua maioria, fugitivos encaminhados por António Bento e seus Caifazes”. E narra ainda: “o Quilombo do Leblon, fundado na mesma década, formou-se nas terras em que, no bairro carioca que lhe dá nome o português José de Seixas Magalhães, industrial produtor de malas de larga venda em todo o país, que cultivava camélias que, ao final do processo, se transformaram em verdadeiras insígnias dos abolicionistas – dentre os quais, a Família Real”.

Sublinha o autor que “as duas últimas décadas do século XX recolocam o conceito de ‘quilombo’ no contexto nacional brasileiro, devido à abertura política que inspirou a ‘descoberta’ de comunidades negras rurais; neste contexto, o termo quilombo amplia-se, adquirindo significados políticos e jurídicos importantes por se referir às comunidades que permanecem nas terras que, há longo tempo, ocupam e onde produzem e vivem. Assim sendo, o conceito deixa de ser, apenas, territorial: passa a focar-se em seus remanescentes e, nesta nova forma, são considerados remanescentes de ‘quilombos’, segundo o Dec. 4887/2003, art. 2º, ‘os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra, relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida’”.

E acrescenta que “como providência de ordem prática, a identificação e certificação dos remanescentes de quilombos passam à competência da Fundação Cultural Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura; como resultado, são reconhecidas, como ‘remanescentes de quilombos’, as comunidades Frechal, no Maranhão; Rio das Rãs, na Bahia; Kalunga, em Goiás; Furnas da Boa Sorte e Furnas de Dionísio, em Mato Grosso do Sul; Conceição das Crioulas, em Pernambuco; Mimbó, no Piauí, dentre outras. Atualmente, existem mais de duas mil comunidades quilombolas catalogadas no Brasil, sendo que, dos 310 processos abertos em tramitação no INCRA – órgão responsável pela titulação das terras - 40% chegaram ao final”.

Entre outros quilombos, existe uma Confederação Quilombola do Campo Grande, em Minas Gerais, conhecida como Quilombo do Campo Grande. A partir de 1735, formaram-se, e se fortaleceram com forros e seus escravos, brancos pobres e seus escravos, além de escravos fugidos da escravidão, que se embrenhavam nas matas, selvas ou morros, dedicando-se à economia de subsistência e às vezes ao comércio, alguns tendo mesmo prosperado. Primeiramente, um destaque especial ao Estado de Alagoas, mais precisamente no interior do Estado, na cidade de União dos Palmares, que concentra o principal e maior quilombo que já existiu: o Quilombo dos Palmares, surgido na então Capitania de Pernambuco. Segundo os registros, existem remanescentes de quilombos nos seguintes estados brasileiros: Maranhão, Espírito Santo, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Pará, Amapá, Acre, Rio Grande do Norte, Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Tocantins, Piauí, Paraíba e Ceará.

O Rei Zumbi
Este processo é paralelo ao quanto se verificou no restante continente americano desde que em 1492 três caravelas chefiadas por Cristóvão Colombo lá arribaram e, em 1503, se registou – em Ayti/La Española (em Cuba) – a primeira revolta de escravos e aí surgiu o primeiro palenque. Em 1514, verificou-se nesse local cubano o levantamento do cacique Enrique, dando continuidade ao pronunciamento contra a escravatura do padre dominicano Bartolomeu de las Casas. Em consequência, os escravos passaram a provir de África, chegando o primeiro navio negreiro em 1518 às Antilhas.

Depois que em 1521, numa plantação açucareira da Jamaica, houve uma rebelião de escravos e em 1523 levantamento de escravos em Puerto Rico, as revoltas sucedem-se: em 1526 na Carolina do Sul, então sob domínio espanhol; em 1529, incidente em Santa Marta, Colômbia; em 1530, rebelião de cimarrons em Castilla d’Oro; em 1532 uma revolta de escravos na Venezuela e em 1533 uma revolta de mineiros escravos em Cuba; em 1537, revolta no México, seguida de pronunciamentos de escravos em Cuba e de guerra contra os palenques no Panamá, seguindo-se – em 1545 – uma rebelião de marrons no Perú (Lima). De 1570 a 1609, quase vinte anos (!), houve um levantamento de escravos no México, quase coincidente com violenta repressão contra os palenques em San Basilio, Colômbia. Em 1609, o rei de Espanha é obrigado a reconhecer a autonomia do palenque de Yanga (San Lorenzo de los Negros). No princípio do século XVII surgem os primeiros acampamentos de marrons na Jamaica, nas Ilhas Virgens, em Guadalupe e na Martinica. Em 1608 começam quatro anos de rebelião de escravos no México; em 1636, surge uma aldeia marron em Guadalupe, nos altos de Capesterre; em 1639 há levantamentos em San-Cristóbal; em 1649 há revoltas de escravos nos Barbados, seguindo-se a repressão sobre os cimarrons na Venezuela (Caracas, 1630), em 1646 em Guadalupe, havendo uma insurreição em 1673 na Jamaica (ano em se formam bandos de marrons nas Bermudas) e em 1675 o levantamento de escravos em Barbados. 

Toussaint Louverture
E continuando este longo rol: em 1688, rebelião de escravos negros nas minas de Negua, em Chocó, na Colômbia; em 1692, sublevação em Barbados; em 1713, a coroa espanhola reconece a autonomia marron de Benkos Biojó; em 1713 há rebelião no Haiti, em 1732 em Andresote, em 1734 na Jamaica em 1763 em Berbice, nas Guianas (conduzida por Cuffy). Em 1789, Ambrosio Mondongo levanta-se em San José e Puchimbuela. Em 1795, rebelião negra na Serrania de Coro (Venezuela); em 1799, em Maracaíbo (Venezuela). Em 1801, consegue-se a libertação de São Domingos por Toussaint Louverture, em 1803 há levantamento de escravos em Durazno (Uruguai) e em 1805 é proclamada a independência do Haiti. Em 1812, há rebelião de escravos em Puerto Rico e Cuba. Em 1848, no Perú (Nepén), em 1854 é proclamada a independência das Esmeraldas.

Como se verifica, é extenso o historial de revoltas de negros de origem africana no continente americano.

Notas:

2 Domingos Lopes é, sem dúvida, um herói nacional: a sua memória deve ser cuidadosamente preservada, justificando-se que receba – em sua honra – o erguer de qualquer monumento.

Estátua de Espártaco, existente no Museu do Louvre, Paris

quarta-feira, 5 de março de 2014

[0525] Quilombos em Cabo Verde e Brasil (1/2)

Memória dos quilombos em Cabo Verde e Brasil

Ademir Barros dos Santos
Nuno Rebocho




Cap. I

QUILOMBOS E QUILOMBOLAS

A presente investigação comprova o que já era conhecido: que Cabo Verde, tal como outros países africanos, teve os seus quilombos onde os escravos fugitivos se refugiavam e heroicamente resistiam à ocupação reinol: deve-se a António Correia e Silva a identificação de um desses quilombos, mas certamente outros se formaram. Os escravos tê-los-ão designado por djulangues, palavra oriunda da costa ocidental do continente – do mandinga. O medo que suscitaram na sociedade reinol criou a ideia que se poderia reproduzir em Cabo Verde o fenómeno havido no Brasil e aí referido como quilombos

O esclavagismo engendrou uma indómita sede de liberdade e a fuga para espaços com alguma segurança face à repressão foi um dos modos como ela se manifestou. Tentamos com este trabalho identificar e descrever não só a sua história, mas também a sua forma de organização. Devido à natural falta de documentação comprovativa, deduzimos - dos poucos indícios existentes - o modo como evoluiu este processo importante da história cabo-verdiana, na esperança de que futuros trabalhos apresentem mais pormenores que, de uma vez, façam luz sobre esta matéria.

Para já, cuidamos que esta contribuição ajudará a inscrever a realidade dos quilombos cabo-verdianos nas cronologias que ensinam a história às gerações mais jovens, que a devem divulgar e defender sem preconceitos de qualquer espécie.

O que são quilombos

A palavra quilombo será de origem quimbundo (Angola) – kilombo – embora surja também no umbundo – ochilombo, e designava originalmente um lugar de pousio, cemitério, ligado à chamada religião vodu, segundo o professor Mário Henrique Simonsen. O investigador brasileiro Ademir Barros dos Santos, que se tem dedicado a estes temas, afirma que, em língua, bantu a raiz lombo se refere “indubitavelmente, ao ritual de circuncisão; ali, a palavra ochilombo ainda remete ao sangue desta iniciação que em outros idiomas de mesma raiz, como cokwe e quimbundu, é designada por termo completamente diferente: mukanda”(quilombos). De acordo com ele, o termo quilombo ganhou erradamente o significado de comunidades autónomas de escravos fugitivos.

Quilombolas idos ao Palácio do Planalto, Brasília
Em todas as Américas há grupos semelhantes, porém, com nomes diferentes, de acordo com a região onde se desenvolveram: cimarrónes em muitos países de colonização espanhola, palenques em Cuba e Colômbia, cumbes na Venezuela e marroons na Jamaica, nas Guianas e nos Estados Unidos. Em Cuba, Jamaica, Panamá, como em Venezuela, Colômbia e outros países, designam-se de cimarrónes os animais domésticos que escaparam aos seus donos e deixaram por isto de estar domesticados. Por extensão, ganharam este nome os escravos que fugiram do cativeiro e recuperaram nos campos a sua liberdade. No México, como também em Cuba ou na Venezuela (onde também são referidos como cumbes) chamam-lhes palenques, nome de uma tribo maia possivelmente liderada por mulheres que souberam resistir aos invasores espanhóis. Na Jamaica, tal como no Suriname e no Haiti, são referidos como marrons ou maroons (que significa “castanho”), por serem de cor escura (negra) – o que indica a sua origem africana.

Os nómadas chamavam quilombos aos seus lugares de paragem e o termo passou a designar a própria paragem no deserto, o acampamento onde se realizava o comércio de cera ou de escravos. Como quer que seja, a palavra é proveniente dos povos de Angola que em muito contribuíram para a massa de escravos que confluíram para a América do Sul e para Cabo Verde. Em princípio, os resistentes nestes quilombos rejeitavam o cristianismo e tentariam recuperar práticas antigas herdadas de África, tanto mais que o clero estava deles ausente.

Zumbi, líder do Quilombo de Palmares
Estudos genéticos têm revelado que a ancestralidade africana predomina na maioria dos quilombos, embora haja a presença de elementos de origem europeia e indígena nessas comunidades. Tal demonstra que os quilombos não foram povoados apenas por africanos, mas também por outras pessoas integradas nessas comunidades. Os estudos mostram que a ancestralidade dos quilombolas - sobretudo no Brasil - é bastante heterogénea, chegando a ser quase que exclusivamente africana em alguns casos, como no quilombo de Valongo, no Sul, enquanto noutros a ancestralidade europeia chega até a predominar, como no caso do quilombo do Mocambo, no Nordeste, que constitui uma exceção.

A maioria dos quilombos tinha existência efémera - uma vez descobertos, a repressão de que eram alvo ficava marcada pela violência da parte dos senhores de terras e de escravos, para se reapossarem dos fugitivos e punir exemplarmente alguns, querendo atemorizar os demais. Apesar de representarem uma resistência à escravidão, muitos quilombos contaram internamente com a escravidão. Esta prática levou alguns teóricos a interpretar a prática dos quilombos como um conservadorismo africano, com classes sociais existentes em África, como reis, generais e escravos.

Cap. II

O CASO DE CABO VERDE 

Quilombos em África

Os escravos, provenientes do continente africano (inicialmente da região dos Rios da Guiné), procuravam a liberdade, quando podiam, galgando as muralhas da cidade, construídas tanto para a proteger de ataques de corsários, como para impedir a escapada dos escravos (“fujões”, donde terá resultado a designação adotada pelos mandingas - “djon”, que significa escravo). Chegaram a Cabo Verde no séc. XV, trazidos pelos colonizadores europeus para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar e de algodão por eles introduzidas e que requeriam mão-de-obra intensiva; com o algodão recolhido fabricava-se pano (panu di tera), cujos réditos por sua vez alimentavam a importação de escravos. Assim, esse contingente de escravos - que engendrava novos contingentes de escravos - convergiu para Ribeira Grande de Santiago e daqui para outros pontos da ilha de Santiago.

O sonho dos homens, e mulheres, deste modo submetidos, era o de recuperar a liberdade perdida. A fuga era um dos meios para obter essa liberdade. Ora, na fuga – que obrigou à construção de muralhas para a impedir em volta de Ribeira Grande (cujos restos ainda hoje são visíveis) - internavam-se em áreas de difícil acesso, tentando assim iludir a perseguição por parte dos grupos de caçadores de fujões, encontrando nesta fuga espaços com naturais condições de fácil defesa: deste modo, surgiram diversos núcleos de escravos libertos disseminados por serras e matagais do interior da ilha, cada vez mais afastados dos principais centros urbanos (Ribeira Grande, Praia, Alcatrazes) – nas áreas limítrofes do atual Município de Ribeira Grande de Santiago, confinando com Santa Catarina (antiga Santa Catarina do Mato), como é o caso da região de Belém-S. João Batista, em Mosquito Horta ou na zona de Pico Leão e de Piku Antónia (Pico de António Genovês) terão aparecido alguns dos primeiros locais de resistência, que mais tarde (a partir do séc. XVIII) foram identificados com quilombos

Foram os reinóis, impressionados pelas insubordinações havidas no Brasil, que deram aos espaços governados por escravos rebeldes o nome de quilombos. Naturalmente que os escravos, sem acesso a fontes de informação, os batizaram com outros nomes – porventura djulangue, palavra que será derivado de djon, a ter em conta os indícios resultantes do facto de existirem localidades com este nome em Belém (no Município de Ribeira Grande de Santiago), em Boa Entrada (no de Santa Catarina de Santiago) e em Santa Cruz.

Caçadores de escravos "fujões"
A fuga de escravos (a procura de liberdade) é quase tão velha como a própria escravatura: é um processo natural – segundo refere Kabengele Munanga (“O negro no Brasil de hoje”) - “o processo de aquilombamento existiu onde houve escravidão dos africanos e seus descendentes”. Recordemos que ela já se manifestou expressivamente no império romano (revolta de Espártaco 1). De certa forma, a fuga dos escravos (africanos) contribuiu para o povoamento do interior da ilha: é um dos vectores deste povoamento, complementar do progressivo internamento dos reinóis (europeus), que ali iam constituindo morgadios e capelas. A ocupação de todo o interior rural foi-se fazendo por este modo.

A organização dos quilombos

Mas só se pode falar na existência de quilombo quando existe uma organização mínima do agregado, embora ela pareça ser rudimentar não só quanto às formas de defesa, sociais ou culturais, ou como manifestações religiosas e lúdicas, a música e a dança, procurando reformular laços familiares perdidos por acção da escravatura. De facto, os quilombos sempre estiveram sujeitos a incursões do poder oficial, sendo por isto obrigados a organizar-se de forma a, além de subsistir económica e politicamente, disporem de recursos eficazes de defesa: tinham governo altamente centralizado, subordinando os mocambos (ou aldeias) em que, eventualmente, se subdividiam, embora os chefes locais participassem de decisões em forma de “congressos”, à semelhança do funcionamento do “conselho de anciãos” africano. Quer dizer: os quilombos sincretizaram modelos de organização genuinamente africanos com o que os escravos assim libertos puderam assimilar da sociedade reinol.

Dick Valkenburg (séc. XVIII) - Escravos dançando
A sua economia seria de subsistência, procurando os seus integrantes encontrar modelos que satisfizessem as suas mais imediatas necessidades. Por conseguinte, centrava-se na agricultura – quase sempre nómada -, na criação de gado e, nalguns casos, na pesca. O trabalho e o produto daí obtido era socializado. É de admitir que, tal como se verificou no Brasil, os quilombos africanos tivessem recebido uma economia mais diversificada, recorrendo a alguma actividade extractiva e comercial (mercantilista) ou mesmo de tessitura.

A vida nos quilombos visava, na sua organização,

aculturar os escravos recém libertos às práticas do quilombo, que consistiam em trabalho árduo para a subsistência da comunidade, já que muitos dos escravos libertos achavam que não teriam mais que trabalhar; e

diferenciar os ex-escravos que chegavam aos quilombos pelos próprios meios (escravos fugidos, que se arriscavam até encontrar um quilombo) - sendo no trajeto perseguidos pelos antigos senhores e correndo o risco de serem capturados por outros escravistas -, daqueles que eram trazidos por incursões de resgates (escravos libertados por quilombolas que iam às fazendas e vilas para libertar escravos).

A origem dos quilombos

Segundo aponta Ademir Barros dos Santos (ob. cit), o estudo idiomático aponta para as origens dos quilombos, a saber: “há cerca de dois mil anos, os antepassados dos povos que, actualmente, falam idiomas bantu, iniciaram sua expansão, partindo do entorno do Golfo da Guiné em direcção ao sul e sudeste da África; o conhecimento da metalurgia facilitou esta expansão: provavelmente, utilizaram instrumentos de ferro para abrir caminho através da floresta equatorial. Neste ponto, há que recorrer ao mito, já que se trata de povos à época sem escrita, em que a tradição oral – com o que pode conter de imprecisões e lacunas – continua sendo, ainda actualmente, a grande fonte de informações sobre a chamada África Negra.

Escravos de origem africana trabalhando no Brasil



“Um dia, durante a interdição, a rainha chama seus notáveis e chefes de linhagem e, colocando o bracelete que simboliza o poder em seu marido, o apresenta como novo chefe lunda; é evidente que o casamento da rainha com o estrangeiro, seguido por sua elevação a rei, causa descontentamento não só entre a família real: também algumas camadas da população recusam-se a aceitar o governo do forasteiro luba. Como consequência, Kinguli, irmão da rainha, leva seus simpatizantes para oeste, onde pretende fundar novo reino, sob sua direcção. Isto, no início do século XVII.

“Kinguli chega à região ocupada pelos jaga em Angola e se faz aliado deles; então, adopta o quilombo – campo ritual - para a formação e iniciação, também, de jovens guerreiros estrangeiros, que incorpora ao próprio exército; como resultado, consegue espalhar seu povo por toda a região mbundu depois de 1610, chegando mesmo a fundar novos estados, tais como Kalandula, Kabuku, Holo, Kassanje, etc.

É importante ressaltar que a ampliação do uso do quilombo como campo de iniciação aplicável também à admissão de guerreiros conquistados, dá ao termo a conotação de “associação de homens, aberta a todos, sem distinção de pertencimento a qualquer linhagem”; é com esta conotação que o quilombo passa a ser entendido na diáspora.

Sanzala do período colonial, no Brasil
“Note-se que a incorporação de guerreiros vencidos ao próprio exército fornece aos jaga duas coisas que lhes faltavam: disciplina e estrutura militares, reunindo consistentemente grande número de estrangeiros no mesmo objectivo – a guerra de conquista; assim, tornam-se eles capazes de derrotar grandes reinos que, de outra forma, poderiam barrar sua expansão. É ainda importante citar: no exército jaga, qualquer elemento – estrangeiro ou não – poderia ocupar posições de comando, bastando, para tanto, mostrar fidelidade, coragem, destaque na guerra, e rígida obediência à disciplina e à hierarquia militar.”

Esta saga do povo imbangala, que é de recordar para conhecer a história dos quilombos e toda a ideologia vodu a ela adrede, introduz-nos em todo o lendário à sua volta. Ainda de acordo com Ademir Barros Santos (ob.cit.) “é possível assumir que o quilombo foi a mais duradoura e efectiva expressão de resistência ao processo escravista, quer no Brasil, quer em qualquer ponto onde a escravidão foi adoptada; isto porque, no quilombo, o escravizado passa de coisa, animal de carga, objeto de exploração e comércio, a gente, readquirindo sua humanidade.

“Note-se que ao escravizado, por sua condição social, não era possível colaborar ou formar parcerias com o sistema dominante: não pode ser meeiro, posseiro, arrendatário - apenas escravo ou, aquilombando-se, homem livre; é possível que, por este motivo, o quilombo persista durante todo o processo escravista: no Brasil, iniciado com Palmares ainda no século XVI, resiste até mesmo durante a abolição; há remanescentes que, em nossos dias, aqui têm protecção constitucional.

“Deduz-se que a instituição quilombo talvez configure o módulo mais representativo de resistência à escravidão, quer por seu alcance territorial, quer por sua longevidade; mais ainda: pelo sentimento político que despertou; isto porque a formação de quilombos não é fenómeno geograficamente localizado, acompanhando sempre o processo escravista, o que leva Clovis Moura a opinar, em História do negro brasileiro, p. 24 – “O quilombo foi [...] a unidade básica de resistência do escravo. Pequeno ou grande, estável ou de vida precária, em qualquer região onde existia a escravidão, lá se encontrava ele como elemento de desgaste do regime servil. O fenómeno não era atomizado, circunscrito a determinada área geográfica [...]. O quilombo aparecia onde quer que a escravidão surgisse. [...]. Muitas vezes surpreende pela capacidade de organização, pela resistência que oferece; destruído parcialmente dezenas de vezes e novamente aparecendo em outros locais [...]. O quilombo não foi, portanto, apenas um fenómeno esporádico. Constituía-se em fato normal da sociedade escravista”. (conclui no próximo post)

Notas: 

1. Espártaco foi um célebre gladiador trácio, líder da revolta de escravos na Roma Antiga, conhecida como Terceira Guerra Servil, Guerra dos Escravos ou Guerra dos Gladiadores. Espártaco liderou, durante a revolta, um exército rebelde que contou com quase 100 mil ex-escravos, tendo sido derrotado por Crasso em 70 a.C.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...