Foi nos tempos em que era dirigente do corresponde agora ao MAESL (estrutura associativa dos estudantes liceais de Lisboa) – nos anos de 60 do século passado, pouco depois da minha chegada de Moçambique – que conheci o Medeiros Ferreira. O meu controleiro no PCP (o camarada Carlos, um alentejano fugido de Aljustrel, nunca soube o seu nome) que, afadigando-se a cumprir orientações do Veiga de Oliveira (do comité da capital), insistia em que o Medeiros devia ser ouvido, Ora, ao tempo, eu cumpria obedientemente as ordens até que a minha opção chinesa me afastou do partido, o que só trouxe um inconveniente: afastou a possibilidade que me era dada de seguir para Moscovo para frequentar o curso de funcionário partidário.
Aconteceu. O partido apostou nos que se me opunham – o José Júdice e o Mário Raposo – e pouco depois que o fantasmagórico Movimento Sindical Estudantil, criado pelo Medeiros, era uma invenção dele: quase não tinha militantes. Era o Medeiros e pouco mais. Não passava de um jogo de ficção que servia a estratégia unitária do PCP e nada adiantava aos estudantes. Com a fuga para Bruxelas do Medeiros, o MSE escafundiu-se – paz à sua alma.
Medeiros Ferreira |
A proximidade com o Medeiros Ferreira veio da minha amizade com o Nuno Brederode Santos, que conheci no meu tempo da “Seara Nova”. Através dele conheci a família do Nuno Rodrigues dos Santos – que por ter um elemento na prisão da PIDE, o Fernando Brederode Santos, meu companheiro na Cadeia do Forte de Peniche – e assim a Maria Emília Brederode, viúva do Medeiros.
O caminho do Medeiros foi feito de zigue-zagues. Criou uma imagem de paciente prudência, de que sou um tanto revel. Mas ensinou-me cuidados táticos de que, se não fosse ele, nunca me teria tornado refém: com eles me acabei por tornar membro da Comissão de Trabalhadores da RDP, suficientemente amplas para me consentirem e terem o apoio do PCP. Por causa delas tive que desistir da Antena 2 para evitar os contra de um processo disciplinar com vistas a despedimento, de que não estou arrependido. Boa gente me acompanhou nestas andanças de que guardo memória.
Do Medeiros recordo-me e sorrio-me ao tomar conhecimento do seu falecimento. Longe, em terras de Cabo Verde por onde ando, recordo-o: foi um bom amigo e vivemos juntos bons e difíceis momentos. Chamo-lhe, comovidamente, “companheiro”.